segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


Sócrates e Merkel, os vencedores

2007/12/09 20:19Paula Oliveira

Quem foram as figuras centrais da Cimeira União Europeia/África?

José Sócrates, presidente da União Europeia e primeiro-ministro português É ele quem encabeça a lista de vencedores desta cimeira porque, em primeiro lugar, conseguiu definir uma agenda que colocou lado a lado interesses económicos e direitos humanos, o que, por si só, é histórico. Falava-se que ia haver assuntos tabu, não os houve.

Angela Merkel, chanceler alemã A sua intervenção marcou de forma inequívoca esta cimeira, tornando-a na porta-voz do pensamento da Europa em relação ao polémico e incómodo Robert Mugabe. O Zimbabué «faz mal à imagem de uma nova África», disse Merkel, afirmando o que a maioria pensava, mas com uma diferença: di-lo com a franqueza desassombrada de uma líder. No papel de anfitrião e conciliador, Sócrates nunca poderia ter assumido essa função destabilizadora.

Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia Noutros tempos seria impossível ver o ex-líder do PSD prestar reconhecimento, com elogios públicos, ao líder de um Governo socialista. Aconteceu nesta cimeira e esse fair play ficou-lhe bem. Por outro lado, Durão Barroso também mostrou que este encontro foi um passo importante para que, no futuro, alguma coisa mude em África. E ofereceu-se para ser ele próprio a mediar as negociações entre Europa e África, no que diz respeito ao Acordo de Parceria Económica (APE).

Alpha Oumar Konaré, presidente da Comissão da União Africana Assumiu com frontalidade que um dos problemas africanos é a falta de «boa governação», isto é, a ainda grande ausência de democracia e de governos eleitos. Além disso, foi também interessante ouvi-lo dizer que se África precisa de aprender algumas coisas com a Europa, o contrário também é verdade.

John Kufuor, presidente da União Africana Disse preto no branco que a questão dos Direitos Humanos era um problema em África. E deixou um apelo a todos os países africanos para que procurem ser cada vez mais eficazes na defesa dos seus direitos e valores. «Se formos eficazes ao nível interno, sê-lo-emos também ao nível internacional», sublinhou.

Muammar Kadhafi, presidente da Líbia Veio para o show of e apenas nisso teve sucesso: tenda beduína, camelos e amazonas a protegerem-no. O rei vai nu? A sua declaração, que apelou aos países europeus e colonizadores para pagarem a dívida que têm com África, teve a infelicidade de abordar um assunto velho e ressabiado e incongruente para quem tem um passado de apoio ao terrorismo. E que tem pouco sentido, especialmente para quem assumidamente veio fazer negócios à Europa.

Robert Mugabe, presidente do Zimbabué Convenhamos, foi um acto de coragem dizer que é um democrata numa assembleia de 80 países que, na sua maioria, o acusam de crimes contra o mais básico dos Direitos Humanos, a liberdade. Disse que Angela Merkel era uma «arrogante» e que a Europa estava «mal informada» sobre o que se passa no seu país. E, num gesto de grande democracia, resolveu pagar a portugueses para se manifestarem a favor das suas políticas. Será que a democracia precisa de acções de marketing destas?

Abdoulaye Wade, presidente do Senegal Foi com ele que se soube que, ao nível económico, o verniz tinha estalado nesta cimeira e que, neste campo, apenas se esperaria o falhanço. Afirmou-o em nome de «um acto de democracia», palavra cara em África. Contudo, Wade marcou negativamente o primeiro dia de trabalhos, ao defender Robert Mugabe das acusações da chanceler alemã, num acto de apoio ao que se passa no Zimbabué.

Falou-se muito em Kadhafi e Mugabe, mas as posições europeias acabaram por vingar. A próxima reunião de líderes poderá ter lugar na Líbia

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