sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Optimismo


Mundo escapa à recessão e Portugal volta a convergir
07.12.2007 - 08h41

Por Sérgio Aníbal

Portugal vai resistir melhor do que a zona euro aos efeitos da crise financeira internacional e irá regressar, já no próximo ano, a uma taxa de crescimento superior à da média dos seus parceiros da moeda única, prevê a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

No relatório semestral publicado ontem, a principal mensagem que a OCDE tentou transmitir foi a de que, no actual cenário de incerteza, também há motivos para estar optimista tanto a nível internacional, como especificamente para Portugal.

É certo que reviu em baixa, face ao relatório de Junho, as estimativas de crescimento para a zona euro, Estados Unidos e Japão, mas fez questão de acentuar que, apesar de entretanto se ter caído numa situação de prolongada instabilidade nos mercados de crédito, uma recessão é improvável e, depois de um abrandamento no próximo ano, poderá haver uma recuperação nas economias industrializadas já em 2009.

Em relação a Portugal, os responsáveis da OCDE apostam ainda mais no optimismo. As previsões de crescimento ontem apresentadas não chegam ao nível de confiança das do Governo, mas não constituem qualquer revisão em baixa face ao que era antecipado em Junho: crescimento de 1,8 por cento este ano e dois por cento no próximo.

Isto significa que, quer antes do início da turbulência nos mercados, quer depois, o andamento antecipado pela OCDE para a economia portuguesa é o mesmo. Este resultado, a confirmar-se, seria o suficiente para colocar Portugal, pela primeira vez desde 2001, a crescer mais depressa do que a média da zona euro em 2008 (dois por cento contra 1,9 por cento). Para 2009, está prevista nova aceleração do ritmo de actividade económica, com uma taxa de crescimento de 2,2 por cento (mais do que os dois por cento da zona euro).

Exportação e investimento

Qual a explicação dada pela OCDE para, ao contrário da generalidade das outras entidades internacionais, antecipar para o próximo ano o regresso de Portugal ao processo de convergência?

Por um lado, as exportações. A OCDE diz que as vendas de Portugal ao estrangeiro vão continuar a ser "apoiadas por uma procura externa robusta". Além disso, acredita que "à medida que a economia continua a reduzir a sua especialização comercial tradicional em produtos de trabalho intensivos, Portugal deverá gradualmente melhorar o desempenho das suas exportações". O optimismo em relação ao efeito positivo do comércio externo na economia é tal que o relatório afirma que, "se as mudanças na estrutura da economia continuarem ao mesmo ritmo que nos últimos anos e o desempenho das exportações se mantiver, o crescimento da economia pode ser mais robusto do que o projectado".

Por outro lado, há também uma grande confiança na evolução do investimento. A OCDE estima um crescimento de 3,8 por cento neste indicador já em 2008, o que aconteceria "em resposta à sólida expansão das exportações e aos efeitos positivos sobre a confiança trazida pela consolidação orçamental".

Apesar deste optimismo, o relatório assinala também a existência de ameaças. As duas principais colocam em risco, precisamente, as expectativas benignas para o investimento e as exportações. A OCDE avisa que, se a actual instabilidade nos mercados monetários internacionais se mantiver por muito tempo, os custos suportados pelas empresas ao pedirem crédito aumentará, conduzindo a cortes no investimento. De igual modo, se a crise financeira afectar, mais do que o previsto, os parceiros comerciais portugueses, as exportações podem não crescer tão rapidamente como o esperado.

Uma coisa é certa: Portugal é, neste relatório, o único país da zona euro para o qual a OCDE antevê uma aceleração, ainda que ligeira, do ritmo de crescimento em 2008. Em Espanha, por exemplo, antecipa-se um abrandamento de uma taxa de 3,8 por cento este ano para 2,5 por cento no próximo. Este "brilharete" português não consegue fazer esquecer, no entanto, que a economia nacional ainda será, em 2009, a que mais afastada está do seu PIB potencial.

Impossível prever o "subprime"

A apresentação das previsões da OCDE, durante o dia de ontem, representou uma injecção de optimismo em relação à conjuntura económica mundial depois de vários dias seguidos em que os desenvolvimentos do mercado teimaram em apontar para um prolongamento e profundidade da crise nos mercados mundiais maiores do que o esperado.

Sem arriscar prognósticos para o fim da instabilidade financeira, a OCDE fez questão de frisar que deverá ser possível resistir às crises que têm vindo a afectar os mercados imobiliários de alguns países e ao aperto que se verifica no mercado de crédito internacional. E, por isso, o relatório recomenda, tanto ao BCE, como à Reserva Federal norte-americana, que não desçam as taxas de juro, já que o mais provável é uma retoma da economia já no final do próximo ano.

Isto não quer dizer que, na OCDE, não tenham consciência dos riscos existentes. Em relação à possibilidade de uma quebra nos mercados imobiliários, os responsáveis da entidade sediada em Paris dizem que é um factor que reduz as expectativas de crescimento em vários países, mas asseguram que o impacto "apenas será severo para algumas economias".

No que diz respeito ao efeito do aperto nos mercados de crédito, os responsáveis da OCDE admitem que pode ser maior do que o relacionado com a subida dos preços de petróleo ou com a descida dos preços das casas. No entanto, confessam a incapacidade para determinar, com o mínimo de precisão, a dimensão do impacto. "Fizemos a única coisa que podíamos fazer: assumimos que se vai dissolver gradualmente", explicou o economista chefe da OCDE à agência Reuters. Portugal é o único país da zona euro para o qual a OCDE antevê uma aceleração do ritmo de crescimento durante o próximo ano

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