terça-feira, 11 de dezembro de 2007


Enfermeiros estrangeiros em Portugal dizem-se discriminados

Dois em cada sete enfermeiros estrangeiros a trabalhar em Portugal (28%), inquiridos num estudo da Ordem dos Enfermeiros, dizem já ter sido vítimas de discriminação por outros profissionais de saúde, enquanto um em cada quatro afirma ter sido discriminado pelos doentes.
Inspirada no tema da Presidência Portuguesa da União Europeia (UE) «Saúde e Migrações», a Ordem dos Enfermeiros (OF) realizou um inquérito para analisar as características socioprofissionais dos enfermeiros estrangeiros a trabalhar em Portugal, que envolveu 276 profissionais, dos 2.223 enfermeiros estrangeiros que exercem no país.

O estudo refere que 28 por cento dos inquiridos admite ter-se sentido discriminada por parte de colegas de trabalho, 27 por cento dos quais dizem que essa situação aconteceu mais de dez vezes ou frequentemente.

«A discriminação por parte de colegas de trabalho tende a ocorrer mais vezes e de forma mais repetida», sublinha o estudo, adiantando que esta situação pode ser explicada com a proximidade existente entre os profissionais.

Dois terços dos enfermeiros estrangeiros consideram existir diferenças consideráveis entre a prática de enfermagem em Portugal em relação com o seu país de origem, adianta o estudo, a que a agência Lusa teve acesso.

Sobre as dificuldades de adaptação aos termos técnicos da enfermagem portuguesa, 35 por cento referem ter sentido dificuldades, sendo que 11% admitem que ainda actualmente as sentem.

Por essa razão, mais de 47 por cento afirmam ter frequentado formação em língua portuguesa. Entre os profissionais que dizem não ter tido aprendizagem linguística, mais de 37% assumem que isso influenciou a sua prática profissional.

O estudo revela que entre 2000 e 2004 o número de enfermeiros estrangeiros registados em Portugal e aumentou cerca de quatro vezes.

Desde 2004, o número estabilizou, mostrando uma ligeira tendência para o declínio. Mais de um terço dos inquiridos (38 por cento) afirmam querer sair de Portugal, sendo que 56 por cento dizem pretender fazê-lo nos próximos cinco anos.

Os dados preliminares do estudo realizado durante os meses de Julho e Agosto, que será divulgado no final do mês, revelam ainda que fora do âmbito do trabalho, um em cada cinco enfermeiros já sentiu dificuldade para contrair um empréstimo, arrendar ou comprar casa.

«O preço da renda aumenta quando ouvem uma pronúncia estrangeira»,«os bancos pedem um fiador português» e «ainda não tenho cartão de utente» são alguns dos exemplos de dificuldades relatadas pelos enfermeiros.

Segundo dados da OE, dos 2.223 enfermeiros que trabalham em Portugal, a maioria (1.682) são mulheres e têm idades compreendidas entre os 21 e os 35 anos.

Quanto à distribuição por nacionalidade, os enfermeiros espanhóis lideram a lista dos enfermeiros estrangeiros (66 por cento) registados na OE.

As principais razões que os trouxeram a Portugal prendem-se com o desemprego no país de origem e a aquisição de experiência profissional.

A esmagadora maioria (86 por cento) disse estar satisfeita com a decisão de vir para Portugal, sendo que o tempo médio de permanência no país é de cerca de dois anos e três meses. O período mais curto verificado é de um mês.

O estudo observa a importância da estabilidade pessoal ou familiar, dado que quase metade dos enfermeiros migrantes é casada, sendo que 52 por cento com cidadãos portugueses.

No que respeita aos acidentes de trabalho, o estudo verificou que um em cada três enfermeiros já sofreu pelo menos um.

Questionados acerca do tipo de acidente, mais de 73% referem a ocorrência de picadas com agulhas e os restantes referem problemas musculares ou esqueléticos e episódios de violência por parte dos doentes.

O inquérito foi enviado a todos os enfermeiros estrangeiros registados em Portugal, tendo sido recebidas 276 respostas dentro do prazo estabelecido, o que representa 12 por cento da população analisada.

Diário Digital / Lusa

Sem comentários: