quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Manuscritos





Livro central da bibliografia de Sá-Carneiro faz parte dos 50 lotes
Manuscrito de "Indícios de oiro" e fotos de Fernando Pessoa em leilão na Potássio4

05.12.2007 - 15h26 Lusa

O único manuscrito conhecido de "Indícios de oiro", colectânea de poemas de Mário de Sá-Carneiro, vai amanhã a leilão na Potássio4, em Lisboa, com um valor-base de licitação entre 5000 e 7000 euros. Uma fotografia de Fernando Pessoa, aos dez anos, será outro dos principais lotes.

O livro, central na bibliografia de Sá-Carneiro, só foi publicado em 1937, 21 anos após a morte do poeta, com chancela da Presença.

Do mesmo autor irá também a leilão um caderno de apontamentos com recortes de imprensa e duas páginas de notas pessoais manuscritas. A leiloeira calcula que ele possa valer entre 3000 e 5000 euros.

Por um valor estimado superior ao dos dois itens anteriores - entre 6500 e 10 mil euros - será posta à venda uma fotografia de Fernando Pessoa aos 10 anos, com assinatura do futuro poeta e a seguinte dedicatória (grafia da época): "à sua boa amiga Maria Ignácia de Saldanha Sette offerece como prova de muita amizade o seu amiguinho - Fernando".

Dos 50 lotes a leiloar fazem ainda parte os dois primeiros números da revista inglesa "Blast", em que colaboraram os poetas T.S.Eliot e Ezra Pound, "De secretis Libri XVII Ex variis Authoribus collecti", um livro hermético do século XVI, de Johann Jacob Wecker, cartazes editados pelo Estado Novo, uma fotografia de Sarah Bernhardt com dedicatória a Silva Pinto e um conjunto de fotos de Fernando Pessoa.


CRISE LAMENTÁVEL

Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.

Viver em casa como toda a gente
Não ter juízo nos meus livros – mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.

Não Ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.

Ter força um dia pra quebrar as roscas
Desta engrenagem que empenando vai.–
Não mandar telegramas ao meu Pai,–
Não andar por Paris, como ando, às moscas.

Levantar-me e sair – não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.–
Pôr termo a isto de viver na lua,–
Perder a frousse das correntes de ar.

Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento –
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento

Que tudo em é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...

Poemas Dispersos, Paris – Janeiro
Mário de Sá-Carneiro

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