Considerados «portugueses de manhã e espanhóis à noite», os barranquenhos lidam touros até à morte, cantam modas alentejanas e sevilhanas, comem açordas e tortilhas e falam um dialecto peculiar, que o município quer tornar Património Linguístico Nacional.
Na vila raiana de Barrancos, no limite do distrito de Beja e junto à fronteira com Espanha, o modo de falar barranquenho é a mais notória característica da identidade étnico-cultural de um povo marcado por uma mistura de costumes e tradições dos dois lados da fronteira.
Em Barrancos ouve-se falar português (a língua oficial), espanhol (sobretudo entre os mais velhos e na literatura oral tradicional) e um misto peculiar destas duas línguas, conhecido como «falar barranquenho» e maioritário nas bocas das gentes da vila.
«Queremos preservar e valorizar o barranquenho que é um dialecto único e um elemento de valor incalculável e indispensável para conhecer e entender a identidade da terra e das gentes de Barrancos», disse à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal, António Tereno.
O município de Barrancos, em parceria com os congéneres espanhóis de Cedilho e Herrera de Alcántara, localidades da província de Cáceres e onde também se fala um dialecto misto de português e espanhol, e as universidades de Évora e da Extremadura espanhola, vão desenvolver um projecto para «estudar, preservar e valorizar as falas destes povos».
Após uma primeira reunião preparatória, os parceiros vão assinar um protocolo para «materializar o projecto», que deverá arrancar no terreno no início de 2008.
Quanto ao barranquenho, «o primeiro passo será candidatar o dialecto à classificação de Património Linguístico Nacional», junto do Ministério da Cultura, disse António Tereno.
Em paralelo, o projecto vai «actualizar os estudos sobre a história, o vocabulário e a gramática do barranquenho», adiantou à Lusa a vereadora da cultura do município de Barrancos, Isabel Sabino.
«O objectivo é conseguir que o barranquenho seja reconhecido oficialmente como um dialecto, para que possamos introduzi-lo como disciplina opcional na Escola Básica Integrada de Barrancos», explicou a vereadora.
«Mais do que a classificação como Património Linguístico Nacional, o reconhecimento oficial como dialecto, o estudo e o ensino nas escolas é a melhor forma de preservar e prolongar o barranquenho nas bocas das gerações vindouras», defendeu António Tereno.
O novo estudo vai partir de outros já realizadas sobre o barranquenho, como os do filólogo português José Leite Vasconcelos, nas décadas de 30 e 50 do século XX, e da filóloga espanhola e docente da Universidade Complutense de Madrid (UCM) Victoria Navas, que investigou o dialecto, após várias estâncias prolongadas em Barrancos, entre 1987 e 1990.
A investigação de Victoria Navas, que a autora diz ser «apenas um primeiro esboço para uma análise mais detalhada», resultou no artigo «O barranquenho: um modelo de línguas em contacto», publicado na Revista de Filologia Românica da UCM, em 1992.
A proximidade com Espanha e o isolamento de Barrancos «tornaram possível a criação de um dialecto transfronteiriço, falado em contexto plurilingue e produto do contacto linguístico prolongado entre habitantes de duas línguas diferentes: o português (variedade alentejana) e o castelhano (variedades andaluza e extremenha)», explica a investigadora no artigo.
Diário Digital / Lusa
09-12-2007 11:00:00
Na vila raiana de Barrancos, no limite do distrito de Beja e junto à fronteira com Espanha, o modo de falar barranquenho é a mais notória característica da identidade étnico-cultural de um povo marcado por uma mistura de costumes e tradições dos dois lados da fronteira.
Em Barrancos ouve-se falar português (a língua oficial), espanhol (sobretudo entre os mais velhos e na literatura oral tradicional) e um misto peculiar destas duas línguas, conhecido como «falar barranquenho» e maioritário nas bocas das gentes da vila.
«Queremos preservar e valorizar o barranquenho que é um dialecto único e um elemento de valor incalculável e indispensável para conhecer e entender a identidade da terra e das gentes de Barrancos», disse à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal, António Tereno.
O município de Barrancos, em parceria com os congéneres espanhóis de Cedilho e Herrera de Alcántara, localidades da província de Cáceres e onde também se fala um dialecto misto de português e espanhol, e as universidades de Évora e da Extremadura espanhola, vão desenvolver um projecto para «estudar, preservar e valorizar as falas destes povos».
Após uma primeira reunião preparatória, os parceiros vão assinar um protocolo para «materializar o projecto», que deverá arrancar no terreno no início de 2008.
Quanto ao barranquenho, «o primeiro passo será candidatar o dialecto à classificação de Património Linguístico Nacional», junto do Ministério da Cultura, disse António Tereno.
Em paralelo, o projecto vai «actualizar os estudos sobre a história, o vocabulário e a gramática do barranquenho», adiantou à Lusa a vereadora da cultura do município de Barrancos, Isabel Sabino.
«O objectivo é conseguir que o barranquenho seja reconhecido oficialmente como um dialecto, para que possamos introduzi-lo como disciplina opcional na Escola Básica Integrada de Barrancos», explicou a vereadora.
«Mais do que a classificação como Património Linguístico Nacional, o reconhecimento oficial como dialecto, o estudo e o ensino nas escolas é a melhor forma de preservar e prolongar o barranquenho nas bocas das gerações vindouras», defendeu António Tereno.
O novo estudo vai partir de outros já realizadas sobre o barranquenho, como os do filólogo português José Leite Vasconcelos, nas décadas de 30 e 50 do século XX, e da filóloga espanhola e docente da Universidade Complutense de Madrid (UCM) Victoria Navas, que investigou o dialecto, após várias estâncias prolongadas em Barrancos, entre 1987 e 1990.
A investigação de Victoria Navas, que a autora diz ser «apenas um primeiro esboço para uma análise mais detalhada», resultou no artigo «O barranquenho: um modelo de línguas em contacto», publicado na Revista de Filologia Românica da UCM, em 1992.
A proximidade com Espanha e o isolamento de Barrancos «tornaram possível a criação de um dialecto transfronteiriço, falado em contexto plurilingue e produto do contacto linguístico prolongado entre habitantes de duas línguas diferentes: o português (variedade alentejana) e o castelhano (variedades andaluza e extremenha)», explica a investigadora no artigo.
Diário Digital / Lusa
09-12-2007 11:00:00
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