quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Assassinada




Benazir Bhutto morre em atentado no Paquistão


RAWALPINDI, Paquistão (AFP) — A ex-primeira-ministra e líder da oposição paquistanesa Benazir Bhutto foi assassinada nesta quinta-feira num atentado suicida que matou pelo menos 20 outras pessoas durante um comício na periferia de Islamabad, duas semanas antes das legislativas.

O camicase atirou e atingiu o pescoço de Bhutto quando ela acenava para a multidão no teto retrátil de seu carro blindado, depois do fim da reunião eleitoral. Logo depois, ele acionou a bomba que transportava.

Benazir Bhutto, que foi em 1998 a primeira mulher a dirigir um país muçulmano, com apenas 35 anos, morreu em seguida no hospital. Ainda não se sabe se ela faleceu vítima do tiro que recebeu ou da explosão.

O atentado foi cometido em Rawalpindi, uma grande cidade da periferia da capital paquistanesa. Imediatamente após o drama, vários corpos desmembrados jaziam na rua, constatou um jornalista da AFP no local.

Além de Bhutto, pelo menos 20 pessoas morreram e outras 56 ficaram feridas, anunciou à AFP o ministro do Interior, Javed Cheema.

O atentado desta quinta-feira é o último de uma série de ataques sem precedentes no Paquistão, que já deixou quase 800 mortos em 2007.

O mais sangrento também teve como alvo um comício de Benazir Bhutto: em 18 de outubro, dois camicases mataram 139 pessoas ao acionar suas bombas durante um gigantesco desfile de simpatizantes que comemoravam em Karachi, a grande metrópole do sul do Paquistão, a volta da ex-primeira-ministra após seis anos de exílio.

Benazir Bhutto, que estava dentro de um caminhão blindado na frente do desfile, tinha escapado ilesa deste duplo atentado.

Desde então, as autoridades multiplicavam as advertências, afirmando dispor de informações "precisas" segundo as quais terroristas islâmicos tentariam novamente matá-la.

Depois do atentado de 18 de outubro, Bhutto havia acusado várias vezes "altos dirigentes" próximos do poder e membros dos serviços de inteligência de estar por trás deste ataque, sem nunca conseguir provar suas acusações.

A ex-primeira-ministra dirigia o principal partido da oposição ao governo de Pervez Musharraf, o Partido do Povo Paquistanês (PPP), depois de ter negociado com o presidente um acordo de divisão do poder que lhe permitiu voltar de seu exílio graças a uma anistia anulando processos pendentes na justiça por atos de corrupção perpetrados quando ela comandava o país (1988-1990 e 1993-1996).

Utilizando como pretexto a ameaça terrorista, o general Musharraf tinha instaurado, em 3 de novembro, o estado de emergência. Após alguns dias de evasivas, Bhutto havia encerrado as negociações com o chefe de Estado para uma divisão do poder na perspectiva das eleições legislativas de 8 de janeiro, somando-se à oposição.

Ante as intensas pressões da comunidade internacional e da oposição, Musharraf, reeleito para um segundo mandato em 6 de outubro, havia levantado o estado de emergência no dia 15 de dezembro, prometendo fazer o máximo para garantir a segurança durante a campanha eleitoral e as eleições.

Benazir Bhutto fazia campanha contra Musharraf, mas sobretudo contra os fundamentalistas muçulmanos, prometendo "eliminar a ameaça islâmica" do país.

Os Estados Unidos, que têm no Paquistão de Musharraf seu maior aliado em sua "guerra contra o terrorismo" na região, acreditam que a Al-Qaeda e os talibãs afegãos, auxiliados por militantes locais, reconstituíram suas forças nas zonas tribais do noroeste.

Após a invasão, no início de julho, da Mesquita Vermelha de Islamabad, durante a qual uma centena de extremistas foram mortos, o próprio Osama bin Laden declarou a jihad (guerra santa) ao presidente Musharraf e a seu regime, para vingar esses "mártires".

Recentemente, segundo a imprensa paquistanesa, um comandante próximo dos talibãs anunciou que faria de tudo para impedir a realização das eleições.

Várias manifestações, algumas violentas, foram registradas nesta quinta-feira no Paquistão depois do assassinato de Bhutto. Pelo menos quatro pessoas morreram nos tumultos ocorridos em várias cidades do país.

A polícia paquistanesa dispersou com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo mais de cem manifestantes em Peshawar (noroeste), constatou um jornalista da AFP. Uma delegacia de polícia foi apedrejada, e vários carros foram destruídos.

Manifestações também foram registradas na cidade de Multan (centro), onde uma centena de partidários do PPP queimaram pneus e bloquearam a circulação.

Em Karachi, o reduto político de Bhutto, manifestantes também incendiaram pneus e bloquearam estradas.

As forças policiais e paramilitares do Paquistão foram colocadas em alerta vermelho, informou o ministério do Interior paquistanês.

O presidente paquistanês, Pervez Musharraf, decretou três dias de luto nacional pelo assassinato da principal líder da oposição no país.

O chefe de Estado considerou o assassinato como uma "imensa tragédia nacional e decretou três dias de luto no país", afirmou a PTV, a televisão estatal do Paquistão.

Musharraf convocou imediatamente uma reunião de emergência do governo e das autoridades militares, e fez um apelo aos paquistaneses para manter a "paz" no país, "para que os objetivos diabólicos dos terroristas não sejam alcançados".

O ex-adversário de Benazir Bhutto, o também ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, que também retornou do exílio oito anos depois de ter sido derrubado pelo golpe de Estado do general Musharraf, prometeu aos partidários da oposição paquistanesa "liderar sua guerra" contra o poder atual.

Dirigentes de todo o mundo condenaram o assassinato de Benazir Bhutto. O presidente americano, George W. Bush, reprovou firmemente nesta quinta-feira um assassinato "covarde" e pediu aos paquistaneses que sigam adiante com o processo democrático.

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, condenou um ato praticado por "covardes que têm medo da democracia".

Brown descreveu Bhutto como mulher de "imensa coragem e valentia pessoal".

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