sábado, 1 de dezembro de 2007

Talibans


Coisas do circo
Os talibans de Lisboa

O PSD sabe que um “chumbo” como este tem consequências gravíssimas. Por exemplo, torna a Câmara ingovernável

Câmara Municipal de Lisboa está à beira de uma nova crise com a hipótese de o PSD inviabilizar na Assembleia Municipal um empréstimo de 500 milhões de euros para saldar dívidas urgentes a fornecedores.
Nestas ocasiões torna-se bem visível a forma como o PSD ainda funciona e o sentido da irresponsabilidade que comporta cada um dos seus actos. Ninguém percebe esta atitude “taliban” do PSD de Luís Filipe Menezes, líder dos social-democratas mas também autarca, quando é óbvio que a Câmara Municipal de Lisboa só tem essa forma de ultrapassar, ou começar a ultrapassar, a grave situação financeira que herdou.
É bem sintomático que o Prof. Carmona Rodrigues, anterior presidente da edilidade lisboeta, tenha desabafado – “Parece que estão a brincar às Câmaras.” Também é elucidativo que todas as forças políticas com representação na Assembleia Municipal, o PC, o BE e a deputada independente Helena Roseta, considerem um absurdo a posição do PSD sobre este assunto.
O PSD já adiantou que votará contra, o que demonstra pouca ou nenhuma consideração pela população de Lisboa, que, em última instância, é quem sofrerá os efeitos da diatribe dos seus vereadores. Exibe em grande estilo a sua incoerência e arrogância porque, depois de ter aprovado o plano de saneamento financeiro da autarquia, nada o autorizaria a inviabilizar esta proposta saneadora. Só o mais profundo desprezo pelos interesses da capital e uma irresponsabilidade recalcitrante podem justificar tamanha insensatez.
Eu não acredito que um só lisboeta, fora do grupo dos “talibans”, considere justificada esta actuação política. O PSD não apresentou alternativas e nem sequer a circunstância de a Assembleia Municipal ter hoje uma legitimidade duvidosa, porque mantém uma composição política que não resultou do último sufrágio, o conduziu a uma lógica de alguma moderação na resolução das questões da cidade.
O PSD sabe que um “chumbo” como este tem consequências gravíssimas. Por exemplo, torna a Câmara ingovernável. Não é possível a António Costa fazer mais nada à frente da Câmara Municipal de Lisboa, porque a falta de dinheiro para pagar, ao menos, dívidas a curto prazo aos pequenos fornecedores elimina todas as hipóteses de prosseguir a árdua tarefa de pôr a governação de Lisboa a fazer trabalho útil.
Se os aventureiros do PSD na Assembleia Municipal se mantiverem inflexíveis e surdos aos apelos de todos os partidos e associações pró-Lisboa que se têm manifestado, é evidente que não restará a António Costa outra saída que não seja a demissão, arrastando consigo igual decisão de todos os vereadores do PS. Se for este calendário de sacrifícios e gastos (novas eleições) imposto à cidade de Lisboa, a população da capital terá de ir novamente a votos para encontrar uma situação política estável.
Acredito que nessa ocasião o povo saberá punir quem faz política desta maneira e perceberá que quem não tem capacidade para agir com bom senso numa assembleia municipal também lhe falta o discernimento, a lucidez e a competência para governar Portugal.

Emídio Rangel

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