quinta-feira, 29 de novembro de 2007

"O Soldadinho não volta..."

Memorial on-line para o soldado

2007/11/27 17:52 Hugo Beleza

Militar que morreu no Afeganistão escreveu sobre a sua experiência numa página pessoal da rede social Hi5. Depois do falecimento, os amigos passaram a homenageá-lo com poemas e mensagens sentidas: «Com a tua partida o mundo ficou um lugar mais triste» ou «O que é belo não morre, transforma-se em outra beleza...» Milhares de pessoas assistiram ao funeral de Sérgio Pedrosa

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«A maior experiência da minha vida está prestes a começar». A frase entre aspas é do soldado Sérgio Pedrosa e foi assinada no dia 23 de Agosto na sua página de Hi5, na Internet, antes de partir para o Afeganistão, país onde perderia a vida, três meses depois, num acidente de viação, durante uma patrulha militar.

Madrugada de sábado passado nos arredores de Cabul, noite de sexta-feira em Crestuma. Segundo o Google Earth são 6.645 quilómetros de distância em linha recta, entre o local sobre o qual disse ser «o fim do mundo» e aquele para onde queria voltar «no Natal». O jovem paraquedista estava na vigia de um Hummer blindado. Uma berma. Um capotamento. A fragilidade humana. Sérgio morreu com 22 anos.

Longe de casa, a tecnologia manteve-o à distância virtual de um endereço. Na página que tinha registado no sítio de relacionamento HI5 tem associados «585 amigos». Muitos deles serviram-se do espaço como memorial.

«Com a tua partida o mundo ficou um lugar mais triste». Lê-se no último comentário que deu entrada no perfil de Sérgio, até à conclusão desta peça. Abaixo, as mensagens sucedem-se no mesmo tom: «O que é belo não morre, transforma-se em outra beleza...», «as palavras fogem num momento como este», «até sempre».



Menina dos Olhos Tristes
Menina dos olhos tristes
O que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Senhora de olhos cansados,
Por que a fatiga o tear?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Vamos senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Anda bem triste um amigo,
Uma carta o fez chorar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar.
- O soldadinho já volta
Do outro lado do mar.

O soldadinho já volta
Está mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.

Reinaldo Ferreira

MENINA DOS OLHOS TRISTES
(versão fonográfica de José Afonso)

Música: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, dito José Afonso (1929-1987)
Letra: Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira, dito Reinaldo Fereira ((1922-1959)
Incipit: Menina dos Olhos Tristes
Origem: Algarve (Faro)
Data: ca. 1962-1963

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