sexta-feira, 23 de novembro de 2007

José Rodrigues dos Santos

Nunca disse que iria despedir José Rodrigues dos Santos


Almerindo Marques deixa estação pública para presidir empresa Estradas de Portugal


Cláudia Luís

Almerindo Marques, que hoje toma posse na liderança da Estradas de Portugal, despediu-se da presidência do Conselho de Administração da RTP, ontem à noite, no programa "Grande entrevista", conduzido por Judite Sousa. O gestor falou, pela primeira vez, sem rodeios, sobre o caso do processo disciplinar de José Rodrigues dos Santos "Nunca disse que o iria despedir".

Almerindo Marques afirmou também que "já esperava que as minorias activistas fossem projectar este caso publicamente". O caso remonta a declarações de Rodrigues dos Santos em que este falou de interferências da administração na informação da RTP.

O gestor - que começou a trabalhar aos 13 anos como aprendiz de mecânico - revelou que o ministro lhe pediu para continuar à frente da RTP. Contudo, Almerindo Marques, que até tinha "disponibilidade para continuar", recusou a hipótese. Além de "rejeitar as posições de comodidade", considera que "a RTP já não é um problema do país".

O entrevistado referiu ainda que "a RTP tinha tendência para o atabalhoamento da indisciplina" e que ele não era "um esbanjador nem um facilitador da indisciplina".

Na perspectiva do docente Francisco Rui Cádima, esta saída sucedeu com "uma pedra no sapato na área da gestão de recursos humanos em tempo de crise, particularmente, no caso do pivô, ele foi mais intransigente do que exigente".

O mesmo comentador considera que Almerindo Marques deixou para trás "uma gestão excelente do ponto de vista financeiro". Numa análise à sua administração na RTP, o docente recorda que, "o ministro Morais Sarmento acho que este gestor tinha o melhor perfil para resolver uma situação de falência técnica da RTP que, há vários anos, tinha uma dívida de 200 milhões de contos".

O administrador opta, então, por indexar a dívida a todas as receitas de publicidade, baseando-se numa estimativa "A RTP tem seis minutos de publicidade por hora e é com base nesse cálculo que a dívida perdurará por cerca de dez anos".

Ora, ainda segundo o coordenador da obra "História da Comunicação Social em Portugal", "como ficará esta situação caso venha a verificar-se uma alteração do modelo de serviço público de televisão no sentido de banir a publicidade?"

Desta forma, a questão que passa a estar na ordem do dia prende-se com o modelo de serviço público a desenvolver e, nesse aspecto, Cádima defende sua "redução progressiva, criando apenas o necessário para tornar-se numa alternativa aos privados". Ou seja, a aposta "megalómana" de implementar o serviço público em todas as plataformas não é, para o analista, "necessária".

Do ponto de vista dos conteúdos, Rui Cádima salienta, como aspecto mais positivo da administração de Almerindo Marques, "a reformatação de canais temáticos", de que é exemplo a RTP Memória. Negativamente, o docente critica "as perseguições em tribunal de jornalistas e críticos de televisão e o hipercontrolo dos jornalistas, que acabam por praticar um serviço de informação institucional". Em suma, um tipo de jornalismo "apagado e burocrático" em detrimento de "jornalismo de investigação".

Ainda no capítulo dos conteúdos, Cádima é peremptório em afirmar que "a programação da RTP1, por regra, não faz serviço público de televisão, seguindo um modelo comercial".

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