Lisboa 21.11.07
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JÚLIO ALMEIDA, Aveiro
Protecção de Menores reúne-se de urgência
Um grupo de jovens de 14 anos residentes em Vale de Cambra terá organizado práticas de automutilação, consumadas em pelo menos um caso, e poderia estar a preparar um suicídio colectivo. A denúncia, que está a ser investigada desde ontem ao fim da tarde, surgiu após o desabafo de um dos menores em conversa recentemente mantida com uma amiga, residente na cidade de Gaia, que por sua vez acabaria por alertar a mãe. Seria esta a dar conta do sucedido, usando um contacto de um agente da PSP de Aveiro.
O jovem terá comentado com a amiga que "andava triste e a pensar no suicídio", dando-lhe a conhecer, também, as práticas de automutilação supostamente inspiradas num site da Internet. Fonte policial esclareceu que a denúncia recebida não esclarecia, exactamente, qual era o site que o grupo consultava como incentivo para automutilação, ou se se tratava de num chat de conversação.
O caso foi comunicado ontem, ao final da tarde, à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CPCJR) Menores do concelho do Norte do distrito de Aveiro que esteve reunida de emergência para tomar medidas urgentes de acompanhamento e fazer uma avaliação da gravidade dos factos a apurar. Ainda ontem à noite, as autoridades policiais, a CPCJR, que integra um representante do Ministério Público, começou a ouvir os pais dos adolescentes, devendo ser aberto um inquérito judicial.
"Chegou a informação por fax cerca das 17.00, relatando a situação. A comissão decidiu logo diligenciar para apurar o que estaria em causa", informou a vereador da Câmara vale-cambrense Célia Tavares, confirmando que o caso não estava referenciado até agora. O presidente da Comissão de Protecção de Menores, David Loureiro, anunciou ontem à noite a abertura de um processo para averiguar os contornos do caso denunciado junto da polícia. "Decidimos agir de imediato com várias diligências para avaliar a situação, seguindo o que diz a lei", afirmou o responsável.
Os membros permanentes da comissão, incluindo um elemento do Ministério Público, visitaram em casa a família de um dos menores referenciados e hoje o encarregado de educação deverá assinar o consentimento para a intervenção poder ter seguimento.
David Loureiro preferiu "não confirmar nem desmentir" o teor das informações de supostas auto-mutilações ou cenários de suicídios. Esclareceu apenas que o "menor está bem mas não foi interrogado", por ainda não ser "a altura adequada." Negou, também, a existência de qualquer "alarme local", até porque o caso foi divulgado ao final do dia. "Pedimos que protejam as crianças", apelou o presidente da Comissão de Protecção de Menores.
Segundo o DN apurou, os jovens frequentam a Escola Secundária de Vale de Cambra. Segundo informação policial, o grupo de menores, "foi supostamente incentivado", através da internet, para a automutilação. Esta prática terá acontecido "parcialmente em concreto pelo menos com um dos menores" do grupo "cujos objectivos passariam ainda por um suicídio colectivo". Não há qualquer informação de que os membros do grupo tenham tido necessidade de receber assistência médica.
Dor mental
Mas o que é que pode desencadear uma situação deste género? Rui Coelho, psiquiatra do Hospital de São João (no Porto) explica que pode tratar-se de um caso em que "a dor mental é tal que quem sofre é o corpo", ou seja, o adolescente quer provocar alterações no seu corpo devido a um grande "sofrimento psicológico e emocional" - que pode resultar de um "envolvimento social e afectivo difícil".
O especialista diz que, para prevenir situações deste tipo se deve atentar em sintomas depressivos, como "apatia, inibição, desencanto" ou, pelo contrário, "hiperactividade, inconstância, agressividade". Alerta para a necessidade de " uma vigilância maior" sobre os conteúdos a que os jovens acedem na Internet" e aconselha "escutá-los e tentar entendê-los". A solução "é o diálogo".
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Há 11 anos
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