segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Mário Cesariny












TRÊS VIDAS
Amigos evocam Mário Cesariny no primeiro ano da sua morte
Panteão e livro alfredo cunha


Ana Vitória

Amigos evocam Mário Cesariny

no primeiro ano da sua morte

Oescritor Luiz Pacheco e o pintor Cruzeiro Seixas, ambos na casa dos 80 anos, nunca se haviam envolvido num projecto comum. Mas foi a sua profunda e sincera admiração por Mário Cesariny de Vasconcelos que os levou a aceitar homenagear o "poeta do corpo". Fazem-no através de uma edição especial do livro "Comunidade", de Luiz Pacheco, a que Cruzeiro Seixas juntou 18 pinturas suas. A obra, impressa exclusivamente em serigrafia, é lançada hoje, por ocasião do primeiro aniversário da morte de Mário Cesariny, a quem o livro foi originalmente dedicado, em 1972.

A iniciativa partiu da Perve Galeria, a que Cesariny, poeta e pintor, esteve ligado e onde, em Novembro do ano passado, pouco antes da sua morte, realizou a última exposição, que reuniu, 56 anos depois, os seus companheiros, também pioneiros do movimento surrealista, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco.

A obra "Comunidade", agora dedicada por Luíz Pacheco e Cruzeiro Seixas ao inventor do "Jornal do gato", inclui 18 quadros, impressos em serigrafia e assinados pelos autores, que foram realizados por Cruzeiro Seixas entre os anos 50 e a actualidade.

Colaboração inédita

Cabral Nunes, director da Perve Galeria e director artístico da edição, explicou, ao JN, que alguns dos quadros têm no livro a sua primeira divulgação pública.

Por outro lado, lembra o mesmo responsável, "este livro é a primeira (e única, até agora) colaboração entre Luiz Pacheco (escritor e editor) e Artur do Cruzeiro Seixas (co-fundador, com Cesariny, do anti-grupo "Os Surrealistas", no qual participaram, entre outros, António Maria Lisboa, Pedro Oom, Mário Henrique-Leiria e Fernando José Francisco)".

"Com esta publicação, os dois co-autores prestam homenagem àquele que é, sem dúvida, um dos expoentes máximos da arte e da cultura em Portugal, Mário Cesariny de Vasconcelos", acrescenta Cabral Nunes.

O lançamento da obra, com a presença de Luiz Pacheco e Cruzeiro Seixas, está agendado para as 18 horas de hoje, nas instalações onde em tempos funcionou, no Rossio, o Café-Gelo, um lugar referencial de tertúlias de intelectuais e artistas, entre os quais "Os surrealistas", na primeira metade do século XX.

Do grupo "Os surrealistas", em cuja criação estiveram envolvidos Cruzeiro Seixas e Mário Cesariny, fizeram parte, entre outros, António Maria Lisboa, Pedro Oom e Mário Leiria.

Ainda hoje, mas às 21 horas, na Livraria Almedina, Fórum Saldanha, em Lisboa, serão exibidos videodocumentários, alguns dos quais inéditos, sobre Pacheco, Seixas e Cesariny.

No espaço da livraria, ficarão em exposição até 16 de Dezembro algumas serigrafias do livro.

No âmbito da homenagem, a Perve Galeria lança igualmente quatro edições em serigrafia, de 100 exemplares cada, de quatro pinturas do livro e a edição de "Timothy McVeigh - O condenado à morte", último livro de Cesariny, publicado em 2006 e impresso em serigrafia.


Mário Cesariny

Pintor e poeta, natural de Lisboa, onde nasceu, em 1923, a sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça. Viria a frequentar a Academia de La Grande Chaumière, em Paris, cidade onde conheceu André Breton, em 1947. Atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, viria a integrar, ainda naquele ano, o Grupo Surrealista de Lisboa.


Luiz Pacheco

Escritor, crítico literário, polemista maldito, fundador da editora Contraponto, nasceu em Lisboa, em 1925. Próximo da tendência surrealista, frequentou o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa, que não concluiu, sendo admitido, em 1946, como agente fiscal da Inspecção de Espectáculos, vindo a tornar-se terceiro oficial. Começa a publicar em 1945 diversos artigos em jornais e revistas. Dedicou- -se à crítica literária e cultural, ganhando fama de crítico irreverente.


Cruzeiro Seixas

Nasceu na Amadora, em 1920. Pintor autodidacta, integra, no final dos anos 40, o Movimento Surrealista Português, sendo considerado um dos seus máximos expoentes. Com uma figuração ímpar de criatividade, os seus desenhos, de exímia execução técnica, revelam um eterno universo envolto em mistério e em poesia. É através das suas personagens e textos que vai publicando que Cruzeiro Seixas se assume como criador determinante.


Para assinalar a passagem do primeiro ano sobre a morte de Mário Cesariny, o livro "Comunidade" terá, hoje, um preço especial de lançamento, no valor de 650 euros (o preço de venda normal será de 900 euros). Para quem não possa deslocar-se a esta iniciativa, que decorre em Lisboa, é possível encomendar o livro previamente através do endereço electrónico galeria@perve.org.pt". Foram ainda realizadas quatro edições em serigrafia, de 100 exemplares cada, assinadas por Cruzeiro Seixas, de quatro pinturas do livro, com preço especial de lançamento de 200 euros (o preço normal é de 300).

Por outro lado, Cesariny vai ser homenageado com uma grande exposição sobre a sua vida e obra, que irá decorrer, em 2008, no Panteão Nacional, em Lisboa. O anúncio foi feito, ao JN, por Cabral Nunes, um dos especialistas que está a trabalhar na homenagem.

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