terça-feira, 19 de agosto de 2008

Algas



Algarve.

Na ria Formosa fica uma das raras empresas do mundo com capacidade tecnológica para produzir microalgas, alimento utilizado para criar larvas de peixe. Dali para a Escandinávia sai o alimento que faz crescer o bacalhau que acaba nos pratos do portugueses
Em todo o mundo, há apenas dez destas empresas Dedicada sobretudo à extracção de sal, a empresa Necton, de Olhão, tem na produção de microalgas para larvas de peixe a sua "menina dos olhos". E tem boas razões para isso, já que não só é uma das escassas 10 empresas do mundo a produzi-las, como participa em experiências tão pioneiras como... a criação de bacalhau da Noruega em viveiro."Quando começámos esta produção, em 2001, só havia duas empresas a nível mundial a fazerem isto, nos Estados Unidos e no Japão", recorda João Navalho, 42 anos, gestor da Necton, que há uma década criou a empresa com base na tecnologia das microalgas, mas acabou por optar pelo sal tradicional.Hoje, explica, são as mil toneladas de sal tradicional produzidas nas salinas de Belamandil, entre Faro e Olhão, que constituem o grosso da facturação da empresa (90%), mas é na produção de micro-algas que a empresa mais evolui, do ponto de vista tecnológico."Exportamos 70 % dos 3500 litros de micro-algas que produzimos anualmente, para maternidades de peixes e oceanários de Espanha, França, Itália e Turquia, e vamos começar a exportar para a Noruega, onde estão a fazer experiências muito bem sucedidas de criação de bacalhau em viveiros", afirma.Na base do projecto, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder) com 296 mil euros, está a ambição de criar um novo tipo de micro-alga, capaz de alimentar peixes após os 22 dias de vida, concorrendo directamente com as rações, que são usadas naquele quadro. Actualmente, os técnicos da empresa produzem a microa-alga Dunaliella, um fito-plâncton utilizado para alimentar os peixes durante a sua formação, isto é na sua fase larvar, até aos 22 dias de vida. "É uma produção muito difícil, porque o fitoplâncton, que é uma planta, tem que ser isolada do zoo-plâncton, que são animais que se alimentam dele. E é esse isolamento que torna este fabrico tão complicado", explica Vitória del Pino, 29 anos, engenheira química directamente responsável pela produção. Para evitar a contaminação com zooplâncton, os técnicos da empresa têm que adicionar sal à água que extraem da Ria Formosa, que deixa a Donaliella incólume, matando o plâncton animal.Junto às salinas da Necton, à beira da ria Formosa, a criação de microalgas ocupa algumas centenas de metros quadrados, pois elas são formadas em gigantescos painéis virados para o sol, por onde corre água, em dezenas de "corredores" horizontais ao longo de cada painel.Daqueles painéis saem todos os anos os 3500 litros de micro-algas verdes concentradas, uma tonelada de biomassa, que é expedida sob as formas líquida, seca e congelada, a preços que rondam os 100 euros/litro. E que alimentam os robalos, douradas, linguados e até bacalhaus produzidos em cativeiro.

Lusa

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