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Manoel de Oliveira
Colombo polémico dá novo recorde
O mais prestigiado cineasta português enfileira assim na equipa de artistas e investigadores que, desafiando as teses historicamente predominantes, sustentam a possibilidade de o descobridor da América ter nascido em Portugal.
“Há várias teses e esta, que diz ser Cristóvão Colombo de origem portuguesa, decorre de uma investigação credível”, afirma ao CM Ricardo Trêpa, intérprete da figura de Manuel Luciano da Silva, o médico, historiador e arqueólogo luso-americano que publicou, juntamente com a mulher, Sílvia Jorge da Silva, o livro em que o filme se inspira – Cristóvão Cólon (Colombo) Era Português’. A narrativa da película recria o trabalho do casal de portugueses na investigação que procedeu para chegar à conclusão expressa no título do livro editado em 2006. O realizador afirma mesmo, em entrevista distribuída pelo co-produtor Filmes do Tejo, que se trata de “um filme biográfico”.
Neto de Manoel de Oliveira, Ricardo Trêpa deslocou-se aos Estados Unidos para participar nas filmagens realizadas em Manhattan e Brooklin para recriar os anos de juventude do emigrante Manuel Luciano da Silva. “Embora tenha já feito géneros diferentes, foi a primeira vez que interpretei uma personagem deste género”, afirma.
Até agora, véspera da estreia, o herói do filme aparenta ser o próprio realizador, que em Dezembro passado completou 99 anos. “Os americanos revelaram curiosidade por ver Manoel Oliveira, um nome conhecido nos meios cinematográficos”, revelou ao CM o produtor François d’Artemare, da co-produtora Les Filmes de l’Après-Midi. “Uma madrugada às 5 horas, em Manhattan, estava tudo descorçoado por não se conseguir fazer arrancar um táxi dos anos 50 que participava numa cena”, conta. “Então, Manoel de Oliveira sentou-se ao volante e, perante a admiração geral, fez o carro iniciar a marcha!”
Além de já ter sido exibido em antestreia, no sábado passado, em Cuba (Alentejo), localidade onde alguns acreditam ter nascido Cristóvão Colombo, o filme já foi visto em Washington, no American Film Institut. “Vai tornar-se na obra-prima de mestre Manoel de Oliveira”, afirma ao CM Manuel Luciano da Silva, que o viu, na companhia da mulher.
INVESTIGAÇÃO COMEÇOU NA LUA-DE-MEL
Emigrante há 62 anos nos Estados Unidos, Manuel Luciano da Silva, que aí exerce Medicina, ficou admirado em Julho de 2006 por receber na sua casa, em Bristol, um telefonema de Manoel de Oliveira, exprimindo interesse em adaptar ao cinema a obra que 62 dias antes havia sido lançada em Lisboa – ‘Cristóvão Colon (Colombo) Era Português’. Ele e a mulher, Sílvia, passaram depois “três meses em contacto directo com o mestre, por meio de internet, telefone e fax na preparação do guião do filme”, conta. O seu interesse pelos Descobrimentos Portugueses foi suscitado pelo facto de o seu pai ter sido capitão da Marinha mercante americana, o que o colocou em contacto com os temas do mar.
“Desde a nossa lua-de-mel, em 1960, que a minha mulher e eu temos feito equipa de investigação histórica”, revela ao CM. O casal tem seguido um método muito original: “Não nos deixamos influenciar por aquilo que já foi dito ou escrito”, pelos temas que investigam. Assim, sobre Cristóvão Colombo tomaram a atitude “de começar tudo de novo”, o que os conduziu à tese que deu o título à sua obra. Manuel Luciano da Silva assevera ainda: “Uso os mesmos métodos científicos de diagnóstico que sempre usei todos os dias na prática da Medicina.” E é por isso “que a nossa investigação histórica tem produzido resultados diferentes dos outros historiadores”, conclui.
FILME "RELEVANTE E OPORTUNO" SOBRE UM TEMAS SEM CERTEZAS
A tese de que Cristóvão Colombo era português é também ‘defendida’ pelo jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos, no seu livro ‘Codex 632’, lançado em 2005 (Ed. Gradiva). Uma obra de ficção alicerçada em documentos históricos genuínos e, fundamentalmente, no trabalho do historiador Augusto Mascarenhas Barreto, ‘Cristóvão Colombo – Agente Secreto de El Rei D. João II’.
Daí que José Rodrigues dos Santos considere a temática do novo filme de Manoel de Oliveira “relevante e oportuna”, salientando, porém, que “é uma questão sobre a qual não há certezas ou respostas seguras”. Rodrigues dos Santos confessa-se “curioso” quanto ao filme, que tenciona ver, e revela que até o escritor italiano Umberco Eco defende a tese de que Colombo era português.
Os direitos cinematográficos de ‘Codex 632’ foram entretanto adquiridos por uma firma de Hollywood ligada aos maiores estúdios de cinema da Meca do cinema, pelo que é de admitir um filme sobre Colombo. Caso tal se verifique, será a segunda vez que um autor português tem uma obra adaptada ao cinema por Hollywood, depois do ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ de Saramago, actualmente em fase de produção e sob direcção de Fernando Meirelles.
A edição portuguesa do ‘Codex 632’ já vendeu 155 mil exemplares, a espanhola 34 mil e a italiana, lançada no ano passado, 18 mil. No próximo dia 1 de Abril, o livro será editado também no mercado dos EUA, com chancela da William Murrow, selo do grupo Harper Collins, um dos mais fortes do país.
IMPORTÂNCIA DA GESTA MARÍTIMA
Manoel de Oliveira atribui mais importância ao facto de Cristóvão Colombo ter descoberto a América do que à possibilidade de ser nosso compatriota. “Se Colombo é português ou chinês pouco interessa, o que conta é o feito”, afirma o realizador. No entanto, na ‘Nota de intenções’ da sua autoria, divulgada pela produção do filme, declara que ‘Cristóvão Colombo – O Enigma’ é “uma ficção de teor romanesco, evocativa da grande gesta dos Descobrimentos marítimos, onde se apresenta a novidade de que Cristóvão Colombo era, afinal, de origem portuguesa.” No filme, o realizador interpreta também a figura de Manuel Luciano da Silva numa fase madura.
Correio da Manhã
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Há 11 anos
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