terça-feira, 21 de outubro de 2008

Mão biónica

Mão biónica implantada em pasteleiro amputado

PAULO JULIÃO, Viana do Castelo


A primeira mão biónica colocada num português já serviu ontem para pegar num copo de água, perante a "surpresa" e "mistura de sentimentos" descritos por João Carlos Pereira, de 32 anos, após uma intervenção que levou cerca de cinco horas, realizada no Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPG).
"Espectacular. É algo que não sonhava poder fazer há alguns anos", confessou ao DN, já de regresso a casa, em Arcos de Valdevez, onde lhe esperam algumas semanas de adaptação à nova mão esquerda. "Vamos ver como é que o corpo vai reagir, mas estou muito optimista. Já hoje consegui fazer coisas que não pensava poder fazer." Para além de escrever num computador ou mandar mensagens, João Pereira experimentou pegar num copo de água. "Com a prótese que tinha esmagava o copo. Com a mão biónica há outra sensibilidade e foi quase perfeito", explicou.
Pasteleiro de profissão, João Pereira, amputado da mão esquerda, tornou-se ontem no primeiro português com uma mão biónica, ou seja, uma mão eléctrica que lhe permitirá realizar movimentos com todos os dedos.
"Tenho pela frente um período de adaptação e de muito treino. Tenho que apreender de novo a mexer com a mão", explicou o pasteleiro, que perdeu a mão esquerda e o polegar da direita quando tinha sete anos, num acidente com um foguete, nas festas de Prozelo, Arcos de Valdevez.
Entre as novas "rotineiras" tarefas ao seu alcance, João Pereira sublinha a capacidade para utilizar talheres e atar os cordões dos sapatos, como aquelas que "por parecerem pormenor" mais significado terão na sua nova vida.
"Vou continuar a ter algumas limitações, mas tudo será diferente a partir de agora", afirma.
O CRPG foi responsável por todo o processo técnico, que envolveu treino e adaptações, até que ontem culminou com a colocação da mão biónica. Foram ainda necessários exames para testar os tendões, tirar as medidas e fazer o gesso. Até que, por fim, os encaixes "batiam certo". Emília Mendes, técnica de reabilitação do centro de Gaia, explicou que a mão biónica entregue a João Pereira, distingue-se das restantes próteses eléctricas convencionais por permitir "o movimento harmonioso de todos os dedos da mão e a rotação do polegar". Foi desenvolvida por um grupo de investigadores escoceses, sendo composta por cinco motores independentes -um por cada dedo da mão. Segundo Emília Mendes, cada dedo pode suportar até oito quilos e a mão permite dobrar, tocar, apanhar e apontar, aproximando-se dos movimentos da mão humana.

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