sexta-feira, 4 de julho de 2008

Desigualdades

Portugal é o país da "Europa rica" com mais desigualdades salariais


MANUEL ESTEVES

Estudo. Os gestores ganham em média 4,4 vezes mais do que os seus empregados de escritório, revela um estudo da consultora Hay Group. Este hiato salarial coloca Portugal, a par da Grécia, como o país onde as diferenças nas retribuições entre trabalhadores "intelectuais" são mais elevadas
Numa lista de 61 países, Portugal ocupa a 39.ª posição
Já se sabia que Portugal tem uma das maiores divergências salariais da União Europeia a Quinze (UE15). Porém, um relatório da consultora Hay Group, baseado numa enorme base de dados com 12 milhões de empregados, revela que esta desigualdade também é significativa entre os trabalhadores por conta de outrem com funções intelectuais (deixando de fora o trabalho braçal).

Em Portugal, um gestor recebe em média 4,4 vezes mais do que um trabalhador de escritório. Ou seja, um funcionário que receba um ordenado mensal de mil euros terá chefes que ganham em média 4400 euros. Na UE 15, Portugal disputa com a Grécia o lugar cimeiro no ranking dos mais desiguais. Em 2006, o nosso país levou a melhor, situando-se na 38.ª posição, numa lista de 61 economias. Em 2007, os gregos superaram-nos, apresentando um diferencial de 4,6, tendo Portugal passado para o 39.º lugar, ombreando com o Botswana - um caso de estudo no continente africano.

Conforme refere o relatório Global pay gaps report, "a Europa é um microcosmo da disparidade que existe entre as economias estabilizadas e as emergentes, com contrastes significativos entre a Europa Ocidental e a do Leste". Com efeito, dos dez países com mais baixos diferenciais remuneratórios, nove são da "Europa rica". No extremo oposto, entre os dez Estados onde existem mais divergências salariais, figuram dois países da Europa do Leste - Roménia e Polónia.

Motivos para as desigualdades

O hiato salarial entre gestores e funcionários de escritório está relacionado com a lei da oferta e da procura. A oferta diz respeito aos níveis de qualificação dos empregados por conta de outrem, enquanto a procura está sobretudo dependente do ritmo de crescimento económico. Como pano de fundo, está a globalização, que levou à criação de um mercado internacional de trabalhadores altamente qualificados.

"Os dados reflectem a crescente globalização do mercado dos trabalhadores altamente especializados, o que leva a que mesmo as empresas nos países em desenvolvimento precisem de pagar um 'salário internacional' para atrair os gestores de topo", explica Gavin Brown, da filial britânica do Hay Group, citado no relatório. O mesmo já não se passa com os trabalhadores de escritório, que desempenham funções menos qualificadas e relativamente indiferenciadas. "Os trabalhadores de escritório estão imunes ao mercado global do 'talento' e são menos propensos à mobilidade internacional e, por isso, tendem a ser pagos mais em função da evolução dos custos de vida", acrescenta o mesmo responsável britânico. Ora, nos países onde o custo de vida é especialmente baixo, como sucede nas economias emergentes e em desenvolvimento, as diferenças face aos "salários internacionais" tendem a ser maiores.

Os níveis de instrução são fundamentais nesta equação salarial. Como explica Charlotte Park, do Hay Group, "quanto maior for a população bem instruída e com altos níveis de formação profissional, mais pequena é a disparidade remuneratória". É o caso de Singapura, onde os trabalhadores conseguem, em média, alcançar significativos ganhos salariais nos primeiros anos de carreira. Segundo o mesmo responsável, os empregados registam, em média, aumentos de 24% dos seus salários nos dois primeiros anos de trabalho.

1 comentário:

Anónimo disse...

Os gestores de topo não podem gerir uma classe trabalhadora desmotivada e desvalorizada. É dinheiro deitado fora. Números do Eurostat.