segunda-feira, 21 de julho de 2008

Bactéria E.T.

Portugueses isolam bactéria "E.T."

SÉRGIO DUARTE

Cientistas portugueses participaram na descoberta uma nova classe de bactérias. Os cientistas da Universidade de Coimbra vão continuar a estudar "o micróbio mais estranho dos últimos 20 anos".
Chamam-lhe E.T. por causa das características estranhas, mas a nova classe de bactérias foi descoberta, a cerca de 1450 metros de profundidade, no Mar Vermelho. O microrganismo foi estudado por um grupo de cientistas que incluía uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), coordenada por Milton Costa e André Antunes.
Esta descoberta é o resultado de uma investigação iniciada em 2004 com uma expedição ao Mar Vermelho organizada por investigadores alemães. Vários microrganismos foram depois isolados na Alemanha, com a colaboração de um grupo de cientistas da Universidade de Regensburg. A caracterização foi posteriormente concluída em Coimbra. "A maior parte dos estudos bioquímicos, fisiológicos e do modo de vida da bactéria foram feitos por nós", disse ao JN Milton Costa, do Departamento de Bioquímica.
O microrganismo "Haloplasma contractile" foi isolado por André Antunes, do Centro de Neurociências e Biologia Celular, a partir de amostras de organismos recolhidas do fundo das fossas salgadas do Mar Vermelho, onde não há luz nem oxigénio.
O E.T. revela características muito particulares e o coordenador da equipa portuguesa não tem dúvidas que "em termos de microbiologia fundamental é o micróbio mais estranho e interessante descoberto nas últimas duas décadas".
As diferenças em relação a outras bactérias são tanto a nível do ambiente em que vive como da morfologia. "Sobretudo esta, é muito distinta porque tem uns tentáculos que se contraem e expandem como nunca foram observados em nenhum outro micróbio", explicou Milton Costa.
Dadas as profundas diferenças é difícil perceber totalmente o microrganismo e vai ser ainda necessário proceder à realização de estudos. Estes passam, por exemplo, por sequenciar o genoma do micróbio e caracterizar o seu ambiente.
A equipa portuguesa vai continuar envovolvida no estudo e Milton Costa afirma estarem "particularmente interessados em saber o que o organismo acumula em resposta ao sal". Há também já um investigador na Alemanha, a estudar a mobilidade do ET.
No reino das bactérias são conhecidas pouco mais de vinte classes. Este micróbio representa mais um destes grupos mas com características muito diferentes das até agora encontradas . Em termos evolutivos, uma classe corresponde a um grupo de organismos como os mamíferos, as aves ou os insectos.

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