quinta-feira, 17 de abril de 2008

A maior percussionista do mundo



A maior percussionista do mundo na Gulbenkian

Foi a primeira percussionista solista profissional do mundo, com carreira globalmente reconhecida. Encomendou mais de 150 obras, às quais acabou naturalmente ligada. O seu currículo aponta ainda outra importante estreia: foi a primeira figura da música clássica a ter um site na Internet. Factos que, muitas vezes, quase suplantam o facto de ter perdido a audição aos 12 anos.

Colabora com diversos projectos de beneficência destinados a apoiar deficientes auditivos e jovens músicos. Muitas vezes Evelyn Glennie tem explicado que a surdez é mal compreendida. Ao longo da vida aprendeu a "ouvir" com parte do corpo que não os ouvidos. Toca habitualmente descalça, assim podendo "sentir" a música.

Já era tempo dela vir à Gulbenkian. A participação da Fundação na encomenda de um Concerto para percussão ao norte-americano John Corigliano (n. 1938) selou, enfim, a ocasião: Dame Evelyn Glennie (n. 1965) toca hoje e amanhã na Fundação, ela que é a dedicatária da obra.

Se a percussão é hoje um "instrumento" solista de pleno direito, muito o deve a esta mulher, que, em cerca de 20 anos, já encomendou quase 150 obras. Diz que o faz "por curiosidade, pelo desafio e pela noção de que é preciso expandir o repertório", mas também "pela experiência tão gratificante que é poder trabalhar com compositores e assistir ao processo de criação, desde as primeiras conversas até à estreia da obra." Explica a "explosão" de obras para percussão em três passos: "desenvolvimento natural no quadro da orquestra; grande aperfeiçoamento nas té- cnicas de construção, que fez dos instrumentos veículos de expressividade; e o leque de opções, até em termos da disposição espacial, que o equipamento nos dá, hoje". Glennie define-se como uma "multipercussionista", no sentido em que toca a totalidade do instrumentário existente (ela própria já inventou vários instrumentos). Uma "opção aberta" que justifica, até por "não se saber a longevidade atingível por um multipercussionista". Para Glennie, quando se toca percussão solo, "está-se a pedir ao público e à orquestra (quando existe) que tenha uma atitude aberta e se concentre 100% na música, porque é a música que conta" - "servimos o compositor, é tudo", dirá - razão por que "um trabalho de equipa, com o empenho e o gosto de todos, é indispensável para que algo aconteça". Reconhece o "enorme papel" histórico de Bartók, Stravinsky e Varèse - e de Cage e de Reich, acrescentará - no desenvolvimento de uma literatura para percussão, mas algo é imutável: "escrever para percussão solista pode ser uma experiência dramática, intimidante: que instrumentos escolher?

Outra curiosidade desta intérprete (e compositora) é possuir uma colecção de cerca de 1800 instrumentos: "Faço-o por prazer e porque são tão bonitos. Muitos, compro-os nos países de origem, o que me permite conhecer os construtores - e fica muito mais barato. Uso-os na música que faço para televisão e rádio." Pretende "pô-los à disposição da comunidade num centro que planeio criar, em Inglaterra, que fará as pessoas interagir com todo o tipo de sons.

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