Agência Espacial Europeia sublinha sucesso da inédita missão
Cargueiro espacial europeu acopla na ISS sem apoio externo
03.04.2008 - 20h45 PÚBLICO, Agências
O novo cargueiro espacial europeu Júlio Verne acoplou esta tarde na Estação Espacial Internacional (ISS), numa missão não tripulada e totalmente automatizada. A inédita missão representa uma importante conquista para as ambições da Agência Espacial Europeia (ESA).
O ATV (sigla em inglês para Veículo de Transferência Automatizado) carregado com cinco toneladas de mantimentos, combustível e dois manuscritos originais do visionário romancista francês acoplou à ISS às 15h45 (hora de Lisboa), numa altura em que as duas estruturas viajavam a uma velocidade próxima dos 27 mil quilómetros por hora. A manobra – que a ESA garante ter sido perfeita – foi concluída graças ao sofisticado sistema computorizado do cargueiro, com recurso a sensores ópticos, accionados na fase final da acoplagem para garantir o correcto posicionamento da estrutura.
A missão foi atentamente seguida pelos controladores em Terra, que poderiam intervir em caso de problema, mas a manobra correu tal como previsto e também sem qualquer interferência da tripulação da estação espacial – um feito nunca antes conseguido, mesmo pelos mais avançados programas espaciais russos ou americanos.“É uma estreia mundial. Estamos a falar de uma acoplagem de um veículo espacial completamente automático, [numa operação] totalmente sob o seu controlo e isso nunca tinha sido feito por ninguém”, congratulou-se Alan Thirkettle, responsável pelo programa da ISS na ESA, em declarações à BBC. Thirkettle sublinha que o sucesso do ATV – um projecto milionário desenvolvido por um consórcio liderado pelo grupo de aeronáutica EADS – demonstra “a competência e capacidade da indústria europeia” e representa “um importante avanço para o programa espacial” do Velho Continente.
Mais do que um cargueiro
Até 2015 estão previstas outras quatro missões de abastecimento a ISS, reforçando a contribuição europeia para o projecto internacional, mas a ESA planeia incluir a tecnologia usada no ATV noutros projectos internacionais, como os que prevêem a criação de uma base permanente na Lua ou levar uma missão tripulada até Marte.
A BBC online revela que nos planos da ESA poderá estar ainda a adaptação da nova tecnologia à construção de naves espaciais tripuladas o que poderia garantir a auto-suficiência do programa espacial europeu. Até agora, os astronautas do Velho Continente estão dependentes dos foguetões russos ou dos vaivéns norte-americanos para as missões no espaço. “Demonstrámos que conseguimos fazer coisas que nunca antes tinham sido feitas antes e isso vai ajudar muito a exploração [espacial] futura”, sublinhou Thirkettle.
Depois de uma viagem de três semanas – o foguetão Ariane que o lançou no espaço partiu dia 9 de Março da Guiana Francesa –, o Júlio Verne deverá permanecer acoplado à ISS durante seis meses. Durante esse período, está-lhe ainda reservada outra missão: o ATV vai accionar os seus propulsores para elevar a ISS, já que a gravidade residual da Terra leva a que a estrutura se aproxime todos os meses cerca de 2500 metros. No final da missão, provavelmente no final de Agosto ou início de Setembro, o cargueiro, onde a tripulação vai colocar lixo acumulado nos últimos anos, vai ser redireccionado para Terra, prevendo-se que seja destruído durante a reentrada na atmosfera, algures sobre o Oceano Pacífico. A ESA entende que é menos dispendioso usar o cargueiro apenas uma vez do que construir uma nave espacial com capacidade para várias viagens, mas existem planos para que, no futuro, seja incluído na estrutura um módulo capaz de resistir à reentrada na atmosfera, a fim de permitir a recolha de experiências realizadas no espaço.
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