sexta-feira, 8 de maio de 2009

Trilobites


Descoberta revela comportamentos sociais de artrópodes extintos
Os fósseis das maiores trilobites do mundo foram encontrados em Portugal
08.05.2009 - 21h04 Nicolau Ferreira
Uma equipa internacional descobriu em Arouca vários grupos de fósseis de trilobites com 465 milhões de anos. Apesar de não haver espécies novas, a importância da descoberta deve-se à dimensão dos indívíduos que, segundo os investigadores, são os maiores do mundo.

“São as maiores trilobites do mundo”, disse logo Artur Sá ao PÚBLICO, co-autor com uma equipa espanhola do artigo publicado este mês na revista "Geology".Em Canelas, no Geoparque Arouca, estão descritas 20 espécies de trilobites – um dos fósseis mais representado da era do Paleozóico. As trilobites viveram durante mais de 280 milhões de anos até desaparecerem há 250 milhões de anos quando se deu a grande extinção do final do período Pérmico, antes da era dos dinossauros.

Na pedreira de Arouca, só cinco ou seis espécies é que apresentaram um tamanho fenomenal. Habitualmente, as espécies não ultrapassam os dez centímetros, aqui a maioria ultrapassava os 30 centímetros e o maior fóssil tem 86 centímetros de comprimento.

A culpa é dos pólos. Há 465 milhões de anos a zona da Arouca perto de Aveiro estava submersa e ficava pertíssimo do pólo sul, junto da costa do continente chamado Gondwana. O frio e as águas com uma baixa concentração de oxigénio permitiram às trilobites crescerem mais, num ambiente protegido em que seres maiores com um metabolismo mais lento estariam bem adaptados. Segundo o paleontólogo, este “gigantismo polar” é uma característica que acontece hoje em muitos artrópodes - filo que engloba os insectos e os crustáceos - que vivem em condições parecidas.

Mas esta descoberta também lança luzes sobre o comportamento social destes animais. “Até agora o que se conhecia eram indivíduos solitários, aqui temos uma grande quantidade de trilobites todas juntas e metros e metros sem trilobites”, explicou Artur Sá, que é professor do departamento de Geologia da UTAD.

O investigador aponta duas razões que podem explicar o fenómeno: no mar, as trilobites juntavam-se para as mudas das carapaças, ficando agregadas para se protegerem enquanto as novas estruturas enrijeciam. Parte dos fósseis são das mudas e não de trilobites, o que dá força a esta teoria. Por outro lado, o objectivo do ajuntamento poderia ser a reprodução, como acontece em artrópodes actuais. O maior grupo de trilobites encontrado em Arouca pertencia à espécie Ectillaenus giganteus, e contava com mais de mil indivíduos com 15 a 20 centímetros que preenchiam uma área de 15 metros quadrados.

Muitos fósseis mostram trilobites encolhidas, provavelmente pela falta de oxigénio. Por questões paleoambientais o mar nesta região teria baixas concentrações do gás. Graças ao seu tamanho e ao baixo metabolismo, teoriza-se que as trilobites poderiam descer até profundidades de 150 metros para se alimentar de partículas orgânicos. A falta de oxigénio matou-as mas ajudou à fossilização. “Trata-se aqui de uma preservação excepcional, que só ocorre quando temos sedimentos muito finos e ausência de oxigénio”, frisa o investigador.


Público

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