Estudo abre a porta para o combate a doenças neurodegenerativas
Descoberto gene responsável pela recuperação de memória em ratinhos com doença parecida ao Alzheimer
07.05.2009 - 18h35 Nicolau Ferreira
Há dois anos uma equipa norte-americana publicava na Nature por conseguir fazer com que ratinhos com sintomas semelhantes à doença de Alzheimer recuperassem a memória, mas só agora é que descobriu que o gene HDAC2 é o culpado.
“Este gene e a sua proteína são alvos promissores para tratar a degeneração da memória”, disse em comunicado Li-Huei Tsai, do Instituto Picower para a Aprendizagem e Memória, que está associado ao MIT nos Estados Unidos. “O HDAC2 regula a expressão de uma quantidade de genes implicados na plasticidade – a capacidade do cérebro para mudar em resposta às experiências – e na formação de memória”, disse a investigadora, responsável pelo novo estudo publicado hoje na mesma revista.
O gene faz parte da família das histona desacetilases, que controlam a transcrição de regiões de ADN porque alteram a conformação das histonas – proteínas onde a molécula de ADN se enrola e que permite formar a cromatina e posteriormente os cromossomas. As enzimas produzidas a partir dos HDCAs fazem com que as histonas fiquem mais compactas e prendam regiões de ADN que deixam de estar disponíveis para serem transcritas. Os genes que se situam nestes locais ficam inoperacionais e as proteínas que codificam não são produzidas. O fenómeno é um processo natural durante o envelhecimento dos organismos.
Na experiência anterior, os investigadores tinham injectado inibidores dos HDCA nos ratinhos transgénicos – que tinham uma perda substancial de neurónios com sintomas parecidos aos do Alzheimer. Apesar de os efeitos terem sido positivos – os ratinhos recuperaram memórias e a capacidade de aprendizagem, e aumentaram a ligação entre os neurónios –, na altura os investigadores não sabiam qual era o gene responsável pela sua recuperação.
“Identificámos agora o HDAC2 como o alvo mais provável dos inibidores de HDAC que facilita a plasticidade sináptica e a formação da memória. Isto também vai ajudar a compreender os mecanismos pelos quais a modelação da cromatina regula a memória”, explica a cientista.
Ao inibir-se o HDAC2, “abre-se um portão para a expressão de vários genes que aumenta a capacidade neurológica”, explicou ao Público o investigador Rui Costa, especialista em neurobiologia, que está a trabalhar no Instituto Gulbenkian de Ciência. Segundo o cientista, nos ratinhos esta alteração teve efeito na estrutura do sistema neuronal, o que permite a recuperação indiscriminada de memórias, além de afectar o processo de aprendizagem. Falta saber se este método “é seguro e pode ser utilizado em humanos”, sublinha Rui Costa.
“No próximo passo, vamos desenvolver inibidores selectivos do HDAC2 e testar a sua função para as doenças humanas associadas à diminuição da memória”, referiu Li-Huei Tsai. O investigador português explica que esta descoberta pode ser importante não só para o Alzheimer mas para uma panóplia de doenças relacionadas com a degeneração neurológica ou até, eventualmente, na recuperação de um AVC. Rui Costa acredita que não teremos respostas antes dos próximos dez anos.
Público
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