Prémio é o mais importante na área da Medicina em Portugal
Miguel Castelo Branco perscrutou o cérebro humano e vence o Grande Prémio Bial
06.05.2009 - 09h30 André Jegundo
O Grande Prémio Bial, que distingue investigações científicas na área da medicina, foi esta manhã atribuído a Miguel Castelo Branco, director do Instituto Biomédico de Investigação da Luz e Imagem (IBILI) e professor auxiliar na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
O júri do prémio Bial, que é presidido por João Lobo Antunes, justifica a escolha com os novos métodos desenvolvidos pelo investigador, que permitem uma identificação mais precoce de doenças visuais e cognitivas como as doenças de Parkinson, Alzheimer ou o glaucoma.
Além do Grande Prémio, foi também atribuído o Prémio Bial de Medicina Clínica, que este ano distingue um trabalho de investigação sobre as doenças reumáticas inflamatórias realizado por uma equipa liderada por João Eurico Fonseca, director da Unidade de Investigação em Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
No caso de Miguel Castelo Branco, o júri valorizou, entre outros aspectos, os novos métodos de identificação de doenças visuais e cognitivas que permitem o desenvolvimento do conceito da "medicina preventiva".
"O que conseguimos foi identificar processos que permitem detectar algumas doenças quando elas estão ainda num estado subclínico. Ou seja, o processo já se desencadeou mas a doença e os seus sintomas só vão aparecer mais tarde e só nesse momento é que normalmente são diagnosticadas", explica Miguel Castelo Branco, acrescentando que a identificação destes biomarcadores, que sinalizam a existência da doença antes dela se manifestar, é fundamental para melhorar as respostas terapêuticas.
A identificação precoce destas doenças, algumas delas degenerativas e associadas à velhice, como a doença de Alzheimer, e de outras doenças do desenvolvimento, foi conseguida através de vários métodos que procuram examinar de forma precisa determinadas funções do cérebro.
A medição de sinais bioeléctricos ou neuro-fisiológicos, por exemplo, foi útil na identificação de doenças degenerativas da retina; métodos de recolha de imagens da estrutura do cérebro e da retina são também importantes na detecção de sinais da doença de Alzheimer ou de glaucoma; por fim, foram também utilizados videojogos e exercícios interactivos que fornecem indicações promissoras para novas estratégias de reabilitação em doenças do desenvolvimento.
Planear a intervenção terapêutica
Miguel Castelo Branco defende que a identificação de biomarcadores moleculares, que podem ser quantificados e que indicam a ocorrência de um determinado processo patológico, é hoje em dia um dos grandes desafios que se coloca à medicina clínica e que pode alterar radicalmente a forma como é planeada a intervenção terapêutica nas mais variadas doenças.
"No caso do glaucoma, por exemplo, se for possível diagnosticar a doença numa fase precoce, apenas com uma pequena percentagem de células do olho lesadas, em vez de 50 ou 60 por cento como acontece numa análise convencional, abre-se uma janela de oportunidade para intervir de forma mais eficaz sobre a doença", justifica.
Para este investigador, que se dedicou às neurociências por causa do fascínio que sente pelo cérebro humano, a visão é "uma excelente porta de entrada" para começar a compreender o cérebro. Mas Miguel Castelo Branco não esconde que há ainda muitas questões por responder.
"Já sabemos hoje em dia delimitar bem as áreas do cérebro dedicadas à visão; conseguimos explicar relativamente bem como o cérebro funde a imagem dos dois olhos; percebemos muito bem como percepcionamos o contraste e o movimento, Mas, ao mesmo tempo, a ambiguidade da percepção continua a ser uma questão que está por responder: por que é que reagimos de forma diferente a estímulos visuais idênticos?", questiona.
O Grande Prémio Bial tem o valor de 150 mil euros e, de acordo com Miguel Castelo Branco, parte dessa verba será investida num projecto de investigação e reabilitação dedicado ao autismo.
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