terça-feira, 21 de abril de 2009

Poesia

Poesia

José Carlos Barros vence prémio

Ontem

O livro 'Os Sete Epígonos de Tebas' é o vencedor do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama.

José Carlos Barros venceu a 12.ª edição do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, informa o site oficial do prémio.

Organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, o prémio tem o valor de 2500 euros e teve, desta vez, 144 obras a concurso. O júri, composto por Joaquim Cardoso Dias, João Candeias e Ruy Ventura escolheu o original Os Sete Epígonos de Tebas, de José Carlos Barros.

Nascido em 1963 e licenciado em Arquitectura Paisagística, José Carlos Barros é neste momento vereador na Câmara Municipal de Vila Real de Santo António. Tem publicados já alguns livros de poesia, nomeadamente Uma Abstracção Inútil (1991), Todos os Náufragos (1994), Teoria do Esquecimento (1995), As Leis do Povoamento (1996) e Las Moradas Inútiles (2007, com edição bilingue em português e castelhano).

No seu blogue, Casa de Cacela (http://casa-de-cacela.blogspot.com), José Carlos Barros publica regularmente a sua poesia.

O júri do prémio atribuiu ainda menções honrosas a Firmino Mendes e Rui Costa.


OS QUE SE DEDICAM ÀS ARTES CÉNICAS

Agora me lembro –
do fundo das noras erguia-se
a labareda
das rosas
dos quintais.
Aprendera a respirar
abaixo
da linha de água.
Mas não era possível ainda
enlouquecer
pela perseverança
nas artes cénicas. E então as mulheres dos montes
viravam os estrados
para o lado de dentro
dos teatros
como se o luxo
da estreia
fosse quase insuportável
e irradiasse nos espelhos
das cerimónias. Agora me lembro –
do modo como o pêndulo
na imensa manhã desse tempo
oscilava
nos ensaios
e
ia e
vinha.


A VARA INCANDESCENTE

Mais que a tempestade ou o dilúvio
o crepúsculo
era o inverno. Porque no interior
da treva demorada
as roldanas dos poços
e a ferrugem
exerciam o ofício de trazer aos alguidares de barro
os rumorosos
óxidos
das nascentes:
e moviam as alavancas
de queimar a urze
nos pátios: e poisavam nas mesas
de pão
o brilho
estrangeiro
das missangas
preciosas. As crianças adormeciam – se o
vento varria nas varandas
a vagarosa vara
incandescente
do ulmeiro
jovem.


Nota: Estes dois poemas fazem parte do original vencedor do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2009. Em «Os Sete Epígonos de Tebas» estabelece-se um jogo de espelhos com a obra de Herberto Helder – com os riscos inerentes, claro, de o lume dessa poesia queimar os versos que a confrontam.

http://casa-de-cacela.blogspot.com/

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