segunda-feira, 1 de junho de 2009

Lobo Antunes

Confissões

Lobo Antunes: "Senti-me um Julio Iglesias das letras"

por A. M.29 Maio 2009

Com um livro recentemente traduzido em Espanha, António Lobo Antunes foi homenageado em Madrid. Na Casa da América encontrou-se com jornalistas e com leitores e voltou a explicar a sua relação com a literatura e com a vida.

Alvo de uma homenagem na Casa da América, em Madrid, o escritor português António Lobo Antunes confessou, na capital espanhola, que cada vez lhe é "mais difícil" escrever.

"Tenho medo de desiludir as pessoas que acreditaram em mim. Nunca pensei em publicar, apenas em escrever. Quando comecei, aos 31 anos, ninguém queria fazê-lo, nem em Espanha, onde todas as editoras me rejeitaram. Hoje em dia, converti-me numa marca registadora como os cereais do pequeno-almoço, num cavalo", contou num encontro com jornalistas.

A homenagem na Casa da América seguiu-se à atribuição do Prémio de Literatura em Línguas Românicas da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México). A propósito da distinção, repetiu uma opinião já expressa em ocasiões anteriores: que lhe "agradam" e lhe parecem uma "honra", mas também que o deixam "indiferente". "Os prémios não te fazem melhor ou pior escritor", comentou Lobo Antunes, cujo nome tem sido sistematicamente dado como sério candidato ao Prémio Nobel.

"A literatura representa um mundo cheio de concorrência e de invejas. Os escritores deveriam ser como os tigres, que não se devoram entre eles. Mas isso não acontece", acrescentou.

"Antes de dedicar-me à literatura, os escritores pareciam-me gente fascinante e depois sofri uma certa desilusão. Além disso, em algumas épocas, todo este ambiente de prémios, traduções e contratos por livros que ainda não se escreveram fez com que me sentisse como um Julio Iglesias das letras", prosseguiu.

Em Espanha foi publicada recentemente uma das suas últimas obras, O Meu Nome é Legião (tradução castelhana editada pela Siruela), que Miguel Ángel Villena descreve, no El País, como "um romance sobre personagens marginais numa Lisboa periférica, com um polícia como fio condutor".

O autor esclarece que esse polícia "se converte numa espécie de escritor que luta com o material que tem e que, neste caso, são personagens sós e desenraízados num ambiente de emigrantes africanos. São pessoas que só sabem exprimir-se através da violência, porque não pertencem já a uma África que perderam nema uma Europa que não as aceita".

António Lobo Antunes referiu- -se também ao seu próximo romance (editado, como habitualmente, pela Dom Quixote), cujo lançamento está previsto para Outubro, em Lisboa. O escritor explicou o título - Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar - como uma alusão a "uma canção popular da zona de fronteira entre Portugal e Espanha, que era geralmente entoada no Natal" e comentou que o livro "é uma das melhores coisas" que escreveu.

Quanto ao seu ofício, foi claro: "Sinto-me como um homem que vai ao lixo e procura coisas que os outros não querem, que deitam fora."

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