sábado, 13 de dezembro de 2008

Ciência

Os primeiros engenhos terrestres que foram a Júpiter, Saturno e Plutão


Físicos do Técnico resolvem mistério das sondas 'Pioneer'

FILOMENA NAVES

Física. Investigadores do Instituto Superior Técnico fizeram abordagem inovadora ao problema da até agora inexplicável desaceleração das naves 'Pioneer' 10 e 11 e encontraram a solução. Anomalia é causada pelas próprias fontes de energia das naves, que têm nela um efeito térmico desaceleradorFontes de calor das naves causam desaceleraçãoAs naves Pioneer 10 e 11, lançadas no início da década de 70 pela NASA para espreitar de perto Júpiter e Saturno pela primeira vez, cumpriram as suas missões sem problema. Enviaram para a Terra os primeiros close-ups dos dois planetas e seguiram viagem, empurradas para fora do sistema solar pela sua própria trajectória. Até que se percebeu, pelos sinais de rádio que continuaram a enviar, que havia qualquer coisa que não batia certo. As naves mostravam uma desaceleração inexplicável, prontamente baptizada por "anomalia das Pioneer", que acabou por gerar grandes debates na comunidade científica. Um grupo de físicos portugueses, do Instituto Superior Técnico (IST), deu agora o que parece ser a primeira resposta fundamentada para o problema, ao determinar que se trata de um efeito térmico causado pelas próprias fontes de energia nuclear das naves. Com ela, o grupo liderado pelo físico Orfeu Bertolami parece ter resolvido um mistério que durava há anos. "São resultados preliminares, que terão que ser confirmados pelo estudo que está a ser feito no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da NASA sobre o problema, mas o nosso método é fiável e a nossa resposta fará parte da solução", disse ao DN Orfeu Bertolami, do IST. Este físico e os seus colegas Frederico Francisco, Paulo Gil e Jorge Páramos, todos do Técnico, assinam o artigo publicado no início de Novembro, na Physical Review, no qual expõem as suas conclusões.Quando a desaceleração das naves foi detectada, ainda na década de 80, os responsáveis pela missão deram conta dela em comunicações breves. Por qualquer razão, as Pioneer exibiam uma aceleração, embora mínima, na direcção do centro do sistema solar (para o Sol ou para Terra, não se sabe). O efeito verificável era que as naves estavam aquém do que deviam na sua viagem para fora do sistema solar. Isso podia ser medido através dos sinais de rádio que continuaram a enviar: a Pioneer 11 até 1996, ano em que se calou, e a 10 até 2003, quando emudeceu também para sempre. Para se ter uma ideia, quando a Pioneer 10 enviou para a Terra o seu último bip, em 2003, já tinha viajado 10,5 mil milhões de quilómetros através do sistema solar. Mas, feitas as contas, estava 400 mil quilómetros mais próxima da Terra do que devia. Esse era o efeito acumulado da tal desaceleração, após três décadas de viagem.Em meados dos anos 90, a questão começou a ser discutida com mais calor e levantaram-se muitas hipóteses, umas mais estranhas que outras, para explicar o fenómeno. Tratar-se-ia de uma fuga de gás? Seria um qualquer efeito gravítico desconhecido, ou antes um fenómeno térmico inesperado, causado pelas próprias fontes de energia das naves?A debate instalou-se . A hipótese da fuga de gás foi descartada. "Se fosse isso, o efeito teria que ser pontual e não contínuo, como se verificou", explica Orfeu Bertolami.Em 2002, a equipa do JPL que estava a estudar o problema, liderada por Slava Turychev, publicou um extenso artigo pormenorizando a questão e todas a s hipóteses possíveis para a explicar, mas sem apresentar uma solução. O mistério mantinha-se. Para avaliar mais profundamente o fenómeno, a equipa do JPL lançou então um estudo exaustivo, recuperando os registos de todos os dados da missão e incluindo todas as medições de temperatura das naves, e recorreu a uma sofisticada modelação computacional, que ainda está a decorrer.Entretanto, no IST, o jovem Frederico Francisco resolveu interessar-se pelo assunto em 2007 e Orfeu Bertolami sugeriu-lhe que fosse pela via da física. "Decidimos calcular uma distribuição de fontes de calor que explicasse a desaceleração, e em Fevereiro já tínhamos resultados interessantes", conta Orfeu Bertolami. Depois disso, era preciso determinar a margem de erro com diferentes fontes de calor. "Essa é a parte espectacular", diz Bertolami. "Verificámos que era mínima e que não precisávamos de nos preocupar com elas". No final, os resultados mostraram que 35% a 60% da desaceleração é devida aos tais efeitos térmicos. No JPL a azáfama continua. No final, esperam os portugueses, as conclusões deverão coincidir.

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