segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ciência em português


por Sandra Pereira, Publicado em 05 de Abril de 2010

A encriptação de dados actual baseia-se em algoritmos quânticos, num código. No caos, a mensagem transmite-se pelo ruído na fibra óptica

Esqueça o código, chegou o caos










Se o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode gerar um tornado no Texas, emitir uma mensagem no meio do caos também pode baralhar as pistas de um hacker. Com este pensamento baseado na teoria do caos, ou no "efeito borboleta" do meteorologista Edward Lorenz, Bruno Romeira, investigador na Universidade do Algarve, descobriu como tirar partido do caos para codificar dados na fibra óptica. Em teoria, pelo menos. O prémio de 12500 euros do programa Estímulo à Criatividade 2009 da Fundação Calouste Gulbenkian pode ajudar a criar um protótipo. Com o fenómeno do "phishing" (ataque informático para obter dados confidenciais) a crescer na internet, empresas e governos não olham a meios para proteger informações sigilosas.

É aqui que o sistema de Bruno Romeira pode fazer a diferença face aos actuais softwares de encriptação baseados em algoritmos (quânticos). No modelo de Romeira, há um emissor que emite sinais caóticos ao longo da fibra óptica para um receptor - que pode ser um computador em casa ou no escritório. Se um hacker quiser decifrar a mensagem secreta, terá de sincronizar emissor e receptor, já que neste sistema não há código--chave. A mensagem está dentro do ruído. E é indecifrável. As técnicas de sincronização estão ainda a ser apuradas por Bruno Romeira.

Este sistema "é mais complicado, mas é estável e garante mais confidencialidade do que os quânticos", explica o investigador de 27 anos. As vantagens da encriptação caótica são promissoras: "Tem menos componentes, baixo consumo de energia e é mais barata". "Se correr bem, poderá ser implementado nos escritórios", acrescenta Romeira, que está a trabalhar com a fabricante alemã Siemens.

Bruno Romeira imagina o seu futuro na liderança de um laboratório português. Não acredita que a fuga de cérebros dure para sempre. "Lá fora, é mais fácil obter financiamento, mas em Portugal começam a existir centros de investigação que contratam". O cientista traça um retrato optimista da investigação nacional: "Estamos cada vez mais equipados com massa crítica e começamos a atrair investigadores do exterior. Portugal está a começar a reunir condições para poder avançar na ciência".

E qual é o passo que falta dar para os portugueses se afirmarem? "Passar o potencial académico para as empresas e transformá-lo em produtividade", responde Romeira, acrescentando que o país devia apostar na propriedade intelectual. Quando a encriptação caótica funcionar na perfeição, o jovem promete não deixar escapar a patente.

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