As escalas humanas de Juan Muñoz em Serralves
MARCOS CRUZ
Exposição. Retrospectiva póstuma do artista espanhol é hoje inaugurada
Mostra fica patente no museu portuense até 18 de Janeiro de 2009
Por estes dias, Serralves é um palco. A exposição Juan Muñoz: Uma Retrospectiva, no Museu de Arte Contemporânea, faz do visitante um espectador e um actor, passageiro ambivalente do dito palco. A apetência do artista espanhol (1953-2001) pela figura, frequentemente de inspiração humana, não é alheia a isso, a essa provocação de pôr o suposto observador, também, do outro lado do espelho.
A escala, no equilibrar e desequilibrar da relação obra-apreciador, é um elemento decisivo, com o qual Muñoz "brinca" a seu bel-prazer. Logo a abrir o corredor do percurso expositivo, explicitam-no pequenas varandas distribuídas pela parede junto a um letreiro de "hotel". O "transeunte" sente-se numa rua, de algum modo condicionado, na sua liberdade sensorial, pela situação cimeira das varandas - que, aí, não estão sequer ocupadas, dispensam esculturas de forma humana por dentro.
As gerações conceptuais já tinham declarado a morte da "personificação" da matéria esculpida quando o artista espanhol, ele sim precocemente morto, a ressuscitou com nova e nobre pertinência. Em termos artísticos, Muñoz é um filho da democracia, um dos primeiros no seu país, cujas tradições pictóricas, literárias, teatrais, cinematográficas e outras evoca abertamente, ainda que sujeitas à tensão grito/silêncio omnipresente nas suas propostas.
Por incluir obras-chave de todos os aspectos do trabalho de Juan Muñoz (escultura, instalação, desenho, som), por chegar a Serralves vinda de museus como a Tate Modern, de Londres (que co-produz, com a instituição portuense e a Sociedade Estatal para a Acção Cultural Exterior de Espanha) e o Guggenheim, de Bilbao, a exposição já seria uma "imposição". É-o, no entanto, também literalmente, ou não fosse a ambiguidade a sua matriz.
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Há 11 anos
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