Media e Tecnologia
Especialistas reunidos no Porto lamentam que Wikipédia seja o parente “pobre” dos wikis
09.09.2008 - 15h48 Lusa
A Wikipedia, o mais famoso wiki do Mundo, é um modelo "pobre" para quem quer tirar o máximo proveito deste tipo de páginas da Internet de construção colectiva, defendem alguns dos maiores especialistas em wikis reunidos no Porto.
"Temos de enfatizar que a Wikipedia constitui um modelo pobre para a maioria dos wikis, porque é um modelo unívoco. Isto é, funciona como se cada tópico tivesse de ter apenas uma resposta", disse George Landow, professor da Brown University, dos Estados Unidos.
George Landow sublinhou que "qualquer pessoa que pense num qualquer tópico importante, seja educativo, técnico, político ou histórico, sabe que todos os tópicos interessantes têm múltiplos pontos de vista".
O autor de "Hipertext 3.0" defendeu que os administradores da Wikipedia deviam permitir que os temas mais complexos tenham múltiplas entradas, com ligações entre elas, do tipo: "Para outro ponto de vista siga este link".
Também Stewart Mader, considerado um dos maiores "evangelistas" da utilização de wikis, afirmou que "a Wikipedia é bastante diferente dos wikis que se usam no trabalho e na escola".
"Na Wikipedia, a audiência e o potencial contribuinte é teoricamente qualquer pessoa no Mundo que tenha uma ligação à Internet", realçou Stewart Made, notando que o mesmo não se passa quando se cria um wiki para reunir contribuições de grupos bastante mais pequenos, como colegas de trabalho ou de escola.
Wikis ferramentas "flexíveis"
Landow e Mader reconheceram que o sucesso da Wikipedia resulta da sua facilidade de utilização, mas sublinharam que os wikis não são apenas vantajosos para trabalho de compilação e de repositório, como o de uma enciclopédia.
Empresas, organizações não governamentais e instituições públicas são, na opinião de George Landow, locais onde os wikis podem ser mais úteis, sobretudo na tomada de decisões.
Stewart Mader destacou como benefícios do recurso a wikis a colaboração rápida e eficiente, a capacidade de envolver várias pessoas num processo através da mesma ferramenta, a facilidade de actualização e a utilidade na gestão de projectos.
O autor de "WikiPatterns" e "Using Wikis in Education", livros sobre o uso de wikis na educação, na investigação e nas empresas, destacou também a flexibilidade dos wikis, que permite "uma vasta gama de utilizações na educação, nos negócios e nos grupos sociais".
George Landow e Stewart Mader são dois dos oradores convidados da quarta edição do WikiSym - Simpósio Internacional sobre Wikis e software social, que está a decorrer no Porto até amanhã, organizado Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Internet só agora está a alcançar objectivos dos teóricos do hipertexto
Especialista diz que a web ainda está na fase 0.5
A Internet só agora está a começar a alcançar os objectivos dos primeiros teóricos do hipertexto, com o aparecimento das ferramentas de colaboração da Web 2.0, disse esta terça-feira George Landow, em entrevista à agência Lusa.
À margem do 4º WikiSym - Simpósio Internacional sobre Wikis, que está a decorrer no Porto até quarta-feira, o especialista mundial em hipertexto salientou que o desenvolvimento do hipertexto e hipermedia (ligações para outros textos ou aplicações multimédia) ainda está na fase 0.5, correspondente ao actual estádio de evolução da Internet.
«A Web 2.0 [também conhecida por Web Social] é Hipertexto/Hipermedia 0.5. A Web está apenas a começar a alcançar os objectivos dos primeiros teóricos do hipertexto (Ted Nelson, Vannevar Bush, Douglas Englebart e Andy van Dam)», afirmou.
George Landow sublinhou que a ideia de hipertexto definida por aqueles teóricos já «exigia que os leitores tivessem capacidade para acrescentar ligações e conteúdos, sem necessariamente alterar os textos de outras pessoas».
O autor de «Hypertext 3.0: Critical Theory and New Media in an Era of Globalization» enalteceu o facto de a Web 2.0 estar a contribuir para o desenvolvimento de ferramentas de colaboração e comunicação baseadas em hipertexto, como os wikis (páginas da Internet de construção colectiva que podem ser modificadas pelos leitores, mantendo sempre o histórico de todas as alterações).
Landow defendeu que, contudo, já existiam sites de colaboração com um funcionamento semelhante aos wikis antes de ter surgido o primeiro wiki, em 1995.
George Landow, que é professor de Inglês e História da Arte na Brown University, nos Estados Unidos, deu como exemplo os seus sites académicos, como «The Victorian Web» (www.victorianweb.org), que reúne quase 40 mil documentos anteriores aos sistemas Web.
«Este site tem muitas colecções de documentos que se parecem muito com wikis, mas nenhum contribuinte pode escrever sobre o documento de outra pessoa», referiu, explicando que todas as contribuições são revistas por si, numa posição assumida de editor e moderador.
Cerca de 130 pessoas de vários continentes estão a participar no WikiSym 2008, que terá ainda como oradores convidados Stewart Nickolas, do núcleo da IBM dedicado às tecnologias emergentes na Internet, e Dan Ingals, autor da linguagem de programação Smalltalk.
Dan Ingals vai apresentar «The Lively Kernel», projecto de investigação que lidera na Sun Microsystems e que antecipa a passagem de wikis de textos para wikis de objectos gráficos.
Especialista defende
Utilização de wikis reduz a troca de emails
A utilização de wikis em áreas como a educação ou os negócios reduz o volume de emails trocados entre os participantes num processo de decisão, defendeu o especialista Stewart Mader
Autor dos livros sobre o uso de wikis na educação, investigação e empresas, «WikiPatterns» e «Using Wikis in Education», Stewart Mader falou no WikiSym - 4º Simpósio Internacional sobre Wikis, a decorrer na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto entre hoje e amanhã.
Segundo a agência Lusa, Stewart Mader deu como exemplo a produção de um livro por encomenda, processo que envolve o autor, ilustrador, gráfico, editor e promotor.
«Se fossemos fazendo o livro por email, ao fim de 15 ou 16 documentos teríamos um pesadelo», afirmou, exaltando a confusão de alterações, correcções, sugestões e comentários que isso iria gerar, o que tornaria difícil gerir o processo.
Como uma das grandes vantagens dos wikis, Mader salientou o facto de ficar «tudo guardado num único sítio, congelado no tempo», o que não acontece com os emails ou com os documentos em Word.
Além disso, «num wiki, o processo é melhor, é mais eficiente e é mais organizado», realçou, e as pessoas podem introduzir e consultar as alterações quando quiserem, sem necessidade de questionarem os outros intervenientes por email ou outro modo de comunicação.
De acordo com Stewart Mader, empresas como a Sun, Vodafone, Westnet, IBM e Adobe utilizam redes internas de wikis em vários processos de desenvolvimento de produtos ou de tomada de decisões.
Conforme referiu, «não há muitos recursos novos desde o primeiro wiki, que surgiu em 1995, há 13 anos. Houve uma evolução menor do que se esperava, mas a maioria das pessoas que usa o Microsoft Office, por exemplo, não quer saber dos novos recursos. Usa sempre a mesma dúzia de funções».
Para Mader, o sucesso dos wikis está na sua facilidade de utilização, mesmo por quem tem poucos conhecimentos de informática.
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Há 11 anos
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